Gauchismo como alternativa ideológica

Os Estados Unidos da América vem se desenvolvendo crescentemente desde a sua fundação, mas sua hegemonia sobre o planeta terra se deu, de forma indiscutível, a partir do final da segunda guerra mundial. Nesse período aconteceu um grande golpe nas expressões culturais regionais, foi imposto ao mundo uma política homogeneizadora que aniquilou as diferenças regionais. O americanismo passou a controlar os padrões culturais e a impor regras em todo mundo, e quem não se ‘americanizava’ era tachado de atrasado.

A algum tempo vem se discutindo sobre o vigor que ainda tem, ou que ainda terá o poderio norte americano sobre o mundo. Essa é uma análise muito complexa e difícil de estabelecer com precisão. Mas podemos abordar algumas questões atuais que demonstram a dificuldade da hegemonia Norte-Americana se estender por muito tempo.Primeiro vamos definir alguns conceitos. Temos que diferenciar o que é ser forte e o que é ser hegemônico. Um país pode ser forte, mas não ser hegemônico, como é o caso de muitos países da Europa. Ser hegemônico em um mundo em que apenas quatro ou cinco nações são de fato industrializadas, e os outros países são arcaicos, semi-medievais, é mais fácil do que manter a hegemonia quando ocorre uma divisão das fábricas e das riquezas, No momento em que começa a surgir nações emergentes com capacidade industrial considerável então a riqueza, em parte se divide, e isso não é bom para manutenção de um sistema hegemônico, esta hegemonia começa a perder amplitude. A riqueza absoluta pode aumentar muito de uma época para outra, mas isso não importa para a hegemonia, para mantê-la importa a riqueza relativa as outras nações, que deve se manter em uma larga diferença. Para haver hegemonia é necessário que quase toda a riqueza esteja sobre controle de um apenas.

Um outro argumento considerável que corrobora com a nossa tese possui caráter histórico, ou seja, a história é dinâmica, as coisas tendem a não permanecer sempre como são. A conjuntura histórica leva um país a se tornar potencia, mas também o leva a decadência. Se no inicio de sua formação os Estados Unidos tiveram uma série de fatores favoráveis a acumulação de riqueza, hoje a conjuntura histórica coloca fatores que desfavorecem a continuidade da hegemonia. Como exemplo citamos a questão ambiental. A natureza não coopera mais como antes, os recursos já não são tão abundantes, a exploração não pode ser desvairada como outrora. Se antes existiam inúmeros países arcaicos com recursos naturais aparentemente infinitos, hoje muitos desses países também se industrializaram, ou os recursos acabaram. Fatores que encarecem e dificultam a conquista dessas matérias-primas, limitando aquela ‘farra’ antiga de comprar toneladas e mais toneladas de produtos primários a preço de banana e depois vender os produtos industrializados, que só eles tinham, a lucros exorbitantes para o mundo todo. Prova de que hoje se paga um preço alto por algumas matérias-primas essenciais são as campanhas militares bilionárias no oriente médio para conquista do petróleo. Tudo isso ainda piora por causa do aquecimento global que não permite mais a poluição desvairada, sem controle ou cuidado com o meio ambiente. E isso causa uma série de gastos com cuidados ambientais que não se tinha antes, gastos que são proporcionalmente bem menores em sociedades menos industrializadas.

Portanto vimos que muitos fatores apontam para uma dificuldade cada vez maior de manutenção da hegemonia mundial, muitos dos recursos destinados para questões que outrora não eram problemas, poderiam estar sendo utilizado na imposição de valores como foi na ‘guerra fria’, poderia se estar tentando impedir o surgimento de outras potências como a China, por exemplo. Pelo visto essas coisas não estão mais ao alcance do poderio Norte Americano, longe de sensacionalismos, a hegemonia de uma nação não cai do dia para noite, é uma longa construção histórica (neste exato momento as mudanças estão ocorrendo), prova disso é o crescimento do MTG, símbolo da expressão regional no mundo todo.

Na medida em que a hegemonia mundial vai perdendo força, o seu monopólio de idéias e valores também vai diminuindo, e com isso o terreno se torna propício ao surgimento de alternativas às idéias e valores vigentes. E na falta (temporária) de uma grande potência hegemônica, as alternativas regionais ganham fôlego. E no caso do Rio Grande o gauchismo é a alternativa mais viável que se coloca para assumir o papel hoje ocupado por instancias Norte-Americanas. Na falta de uma concorrência forte o gauchismo tende a ganhar um espaço ainda maior do que já ocupa, e por fim conseguir criar no povo a noção de pátria, de civismo, de cidadania que, hoje em dia, está tão fragilizado, carente e ansioso por renovação.

Autor: Celso Garcia, graduando de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). 13-10-07