Contexto mundial e o meio ambiente



É impossivel negar que a questão ambiental é um dos grandes fatores causadores das modificações do contexto mundial das nações no século XXI. o planeta não é o mesmo e as relações que se dão nele também não.
Primeiramente porque os recursos naturais já não são abastados como outrora, se no inicio do século era possível comprar matéria prima, aparentemente infinita, a preço de banana, dos países subdesenvolvidos, hoje em dia nem mesmo essas regiões possuem matéria em quantia, a dificuldade é maior para extração dos recursos e o custo se torna alto.
Além da escassez de matéria prima, no século XXI nenhuma nação pode se dar ao luxo de poluir desvairadamente o meio ambiente, mas ao contrário tem que gastar boa parte de seus lucros em medidas que diminuem a poluição das fábricas e moderem a devastação causada pela extração de recursos.Esses fatores somados se tornam obstáculos ao crescimento absurdo visto nos séculos XIX e XX, uma vez que acabam por colocar regras a extração e produção industrial. O resultado disso é menos dinheiro sobrando para imposição/construção da hegemonia no globo, é menos dinheiro para imposição ou manutenção da ideologia nacional sobre as outras nações.

Bush não quer saber nada de acordos climáticos

O Presidente dos Estados Unidos George W. Bush disse à agência de notícias britânica ITV que será negativo diante de qualquer acordo em matéria climática que seja discutido nesta semana, na Cúpula do Grupo dos 8 (G-8).
Bush disse que se os Estados Unidos tivessem ratificado o acordo de Kioto sobre mudança climática em 1997, isso teria significado a “destruição” da economia estadunidense. “Se isto é como Kioto, a resposta é não”, disse Bush.
Kioto é um acordo legalmente vinculante orientado a reduzir as emissões de carbono, considerada umas das principais responsáveis pelo aumento do aquecimento global. Os líderes do G-8 – Inglaterra, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia e os Estados Unidos– se reunirão em Gleneagles, Escócia, nesta quarta-feira, iniciando a cúpula de três días de duração.
Bush disse que pretende pressionar pela introdução de novas tecnologías, como forma de atacar a problemática da mudança climática. Disse que a mudança climática é “um assunto com o que deve-se lidar”, afirmando que pode-se culpar a atividade humana, mas só até certo ponto. O presidente norte-americano espera que os outros líderes do G-8 estejam “além do debate de Kioto” e considerem estas novas tecnologias.
Assim, Bush disse que os Estados Unidos estão investindo no desenvolvimento de técnicas e energias “limpas”, como sequestro de carbono em poços subterrâneos, os veiculos movidos a hidrogênio e as estações energéticas com emissões zero.
O Presidente francês, Jacques Chirac, afirmou que espera chegar a um acordo em matéria de mudança climática, ainda que o Ministro de Meio Ambiente da Alemanha, Juergen Trittin, afirmou que é “muito cético no que diz respeito à vontade dos Estados Unidos de mudarem sua posição”.O Senador John McCain, um dos principais críticos de Bush em matéria de aquecimento global, afirmou que a abordagem do tema feita por Bush é “pouco feliz”.
Sobre a luta contra a pobreza na África, Bush indicou que estava pronto para abandonar os subsídios agrícolas aos produtores de seu país, mas somente se a União Européia deixar de lado suas Políticas Agrícolas Comuns.Os comentários de Bush sobre colocar os interesses dos Estados Unidos por cima das ações destinadas a atacar a mudança climática têm sido fortemente rejeitados pela Amigos da Terra Internacional. O grupo ambientalista exige dos líderes do G-8 que isolem à administração Bush em suas conversações desta semana.
Tony Juniper, vice-presidente da Amigos da Tierra Internacional, disse que “as políticas da administração Bush em matéria de mudança climática são curtas, negligentes e imorais. O Presidente garante que não aceitará objetivos de redução de contaminação porque deseja proteger a economia estadunidense, mas suas ações provocarão danos econômicos de grande escala, que também afetarão os Estados Unidos. A agenda Bush está claramente conduzida por interesses disfarçados, incluindo as companhias que vêem o vício norte-americano pelo petróleo como uma licença para imprimir dinheiro. Os outros líderes do G-8 devem isolar o Presidente Bush e encontrar uma causa em comum com aqueles países que vêem a necessidade de tomar ações urgentes, incluindo China e a Índia. Um día, os Estados Unidos se somarão, mas enquanto isso, aqueles países que visualizam a ameaça devem avançar”.


Origem: pagina da radio Mundo Real
(www.radiomundoreal.fm)

Metas do Protocolo de Kyoto serão ignoradas sem ajuda dos EUA

da Reuters, em Nova Déli
O mundo pode não cumprir as metas de corte na emissão de gases do efeito estufa acertadas em um acordo de 1997 se os Estados Unidos, maior poluidor do planeta, não reduzirem as emissões em seu território, afirmou hoje uma autoridade da Organização das Nações Unidas (ONU).

"Se olharmos para as políticas atuais adotadas pelos EUA, é improvável que as metas de (Protocolo de) Kyoto sejam cumpridas", disse Joke Waller-Hunter, secretária-executiva do secretariado da ONU para mudanças no clima.

O Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, pretende reduzir até 2012 em 5,2% a emissão de gases que provocam o efeito estufa no mundo desenvolvido, em relação aos níveis registrados em 1990.

Mas os EUA, os maiores poluidores do planeta, recusaram-se a ratificar o acordo, criticado pela superpotência por não obrigar os países em desenvolvimento a adotarem metas para o corte na emissão.
O país também afirma que medidas nesse sentido seriam prejudiciais à economia norte-americana.

Waller-Hunter, que está em Nova Déli (Índia) para um encontro de dez dias sobre as mudanças no clima, também disse que nem todos os países signatários do acordo caminhavam rumo ao cumprimento das novas metas de emissão assumidas.

Segundo a autoridade, era fundamental manter as portas abertas para os EUA, a serem incluídos no acordo futuramente.
Para entrar em vigor, o Protocolo de Kyoto precisa ser adotado por países que respondam por ao menos 55% das emissões de gases do efeito estufa verificadas em 1990.

Sem os EUA, o pacto naufragará caso a Rússia desista dele. Mas o governo russo deu apoio ao tratado e afirma que o ratificará neste ano, o que garantiria sua validade.
Origem: Folha online 2002

O Protocolo de Kyoto e a terceira etapa da “ecodiplomacia”

178 a 1. Esse foi o placar da conferência sobre mudanças climáticas realizada em Bonn (Alemanha), no final de julho. O único Estado que se recusou a firmar a versão revisada do Protocolo de Kyoto foi os Estados Unidos.
Do ponto de vista diplomático, o placar arrasador expressa a vitória alcançada pelos Estados europeus, que souberam atrair o Japão, e o isolamento, estranho e preocupante, dos Estados Unidos. A adesão européia e japonesa é suficiente para conferir força legal ao Protocolo de Kyoto. A “ecodiplomacia” ingressa, definitivamente, na sua terceira etapa, marcada pelo estabelecimento de regras compulsórias e pelo esgotamento da política de consenso retórico vigente desde a Conferência de Estocolmo, em 1972.
A primeira etapa da “ecodiplomacia” transcorreu sob o signo das idéias do Clube de Roma, que continuam a fundamentar as concepções da maior parte das organizações ambientalistas. O Clube de Roma nasceu em 1968, congregando cientistas, economistas e altos funcionários governamentais, com a finalidade de interpretar o que foi denominado, sob uma perspectiva ecológica, “sistema global”.
O arcabouço teórico do pensamento do Clube de Roma reside na idéia de que o planeta é um sistema finito de recursos, submetido às pressões do crescimento exponencial da população e da produção econômica. As suas conclusões apontavam o horizonte do colapso do sistema. As suas propostas organizavam-se em torno da noção de um gerenciamento global da demografia e da economia, a fim de alcançar um estado de equilíbrio dinâmico. Severas medidas de controle da natalidade e mudanças radicais nos modelos produtivos, com ênfase numa “economia de serviços”, eram as recomendações centrais da nova escola de pensamento ecológico.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, em 1972, ocorreu sob a égide dessas concepções e produziu declarações diplomáticas genéricas. O seu resultado mais efetivo foi a criação do novo campo da política internacional – a “ecodiplomacia”.
A segunda etapa da “ecodiplomacia” teve como ponto alto a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no rio de Janeiro, em 1992. A ECO-92 vinculou meio ambiente e desenvolvimento, politizando definitivamente o debate. Dela emergiu o conceito de desenvolvimento sustentável, expressão de estratégias econômicas destinadas a promover o crescimento da riqueza e a melhoria das condições de vida através de modelos capazes de evitar a degradação ambiental e a exaustão dos recursos naturais.
Contudo, sobretudo, a ECO-92 rejeitou a noção de que a defesa do meio ambiente pudesse conduzir à imposição de limites para o crescimento econômico dos países em desenvolvimento. Os tratados que emergiram da conferência identificam nos padrões de produção e consumo dos países desenvolvidos as principais fontes de poluição ambiental. O tratamento do tema do aquecimento global sintetizou um método: a Convenção do Clima definiu metas de emissões para os países desenvolvidos, mas não para os países em desenvolvimento.
As negociações para a Convenção do Clima foram marcadas pela resistência dos Estados Unidos à fixação de limites compulsórios para emissões de gases de estufa. No fim, os países desenvolvidos comprometeram-se a congelar, até o ano 2000, as emissões de CO2 nos níveis registrados em 1990. Não foram fixados limites nacionais compulsórios e o compromisso unilateral não se revestiu de valor jurídico. Esse padrão caracterizou a ECO-92: os tratados refletiram consensos retóricos sobre princípios gerais, sustentados pela ausência de obrigações precisas ou compromissos compulsórios.
O Protocolo de Kyoto, firmado em dezembro de 1997 e anexado à Convenção do Clima, inaugurou a terceira etapa da “ecodiplomacia”. Na ocasião, fixou-se o compromisso compulsório de redução de 5% nos níveis de emissões de 1990, a ser atingida entre 2008 e 2012. Também criou-se um sistema de comércio de créditos de emissões entre os países, de modo a conferir flexibilidade ao tratado e reduzir os custos do ajuste das economias nacionais.
Estados Unidos versus União Européia
A administração de George Bush já revelou, em várias ocasiões, a sua aversão ao multilateralismo e, em particular, às instituições e tratados internacionais que limitam o espectro de opções de política nacional dos Estados Unidos. A ruptura de Washington com o Protocolo de Kyoto, qualificado como “fundamentalmente equivocado” por Bush já durante a campanha eleitoral, sinalizou a tendência unilateralista da nova administração.
A reação européia consistiu em assumir a liderança de frenéticas negociações destinadas a salvar o Protocolo. Os europeus jogaram pesado. Para conseguir o apoio indispensável do Japão, propuseram a adoção de uma noção extremamente abrangente de “sumidouros de gases de estufa”: assim, as florestas preservadas funcionam como pretextos para vastos descontos nos tetos de emissões.
Por que os europeus empenharam-se a fundo em salvar o Protocolo, isolando os Estados Unidos e impondo constrangedora derrota diplomática à administração Bush? Há uma resposta óbvia: tratava-se de punir o unilateralismo e afirmar a independência européia no sistema internacional. Mas isso é apenas uma dimensão das motivações européias, e talvez não seja a mais interessante.
O aquecimento global, ao que tudo indica, é um desafio sério. Segundo as projeções médias atuais do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a média térmica global tende a aumentar em 2,10C até 2100, em virtude essencialmente da interferência humana. Contudo, de acordo com um modelo de Tom Wigley, um dos principais autores dos relatórios do IPCC, a aplicação do Protocolo de Kyoto teria apenas o poder de reduzir para 1,90C o aumento da média térmica global. E isso na hipótese, hoje bastante improvável, de que os Estados Unidos aderissem ao tratado.O Protocolo de Kyoto não tem o poder de “salvar o planeta” – que, inclusive, não está em perigo – ou assegurar “o futuro da humanidade”, para utilizar as expressões ingênuas e enganosas tão em voga no debate ambiental. Mas o tratado tem o poder de condicionar as políticas industriais nacionais, estimulando a inovação tecnológica na esfera crucial da produção e consumo de energia.
Quando a administração Clinton firmou o tratado, estava se engajando em políticas de inovação tecnológica tendentes a substituir o uso de combustíveis fósseis e promover a eficiência energética. A sinalização fornecida por Kyoto foi compreendida por empresas do setor de energia e montadoras automobilísticas, tanto nos Estados Unidos como na Europa e Japão. Ao lançar a operação de salvamento do Protocolo, os Estados europeus revelaram um compromisso estratégico com essas políticas, que prometem gerar uma onda de inovações e criar vantagens comparativas para as economias capazes de liderar o salto para o padrão energético do futuro.
A administração Bush escolheu, ao que parece, um outro caminho, baseado na manutenção de um padrão energético dependente da queima de combustíveis fósseis. Pior para os Estados Unidos.

Autor: Demétrio Magnoli
Fonte: Revista Pangea

O Desespero do "Tio San"

Quando se fala que o "Tio San" está desesperado, alguns chamam de sensacionalismo, mas estanhamente existe uma resistencia enorme dos Estados Unidos em aderirem a projetos sobre o meio ambiente. são frases do tipo "A questão fundamental é se vamos ou não ter a capacidade de crescer nossa economia e sermos bons com o meio ambiente ao mesmo tempo", pronuciada por Bush em um discurso no Arkansas. veja o artigo abaixo.



Bush classifica Protocolo de Kyoto de "má política"



ROGERS, Estados Unidos (Reuters) - O presidente norte-americano, George W. Bush, disse na segunda-feira que a abordagem de seu governo para enfatizar metas voluntárias para combater as mudanças climáticas está funcionando. Ele também criticou o modelo do Protocolo de Kyoto de estabelecer metas obrigatórias como "má política".
Os comentários de Bush foram o sinal mais recente de sua oposição para reduções obrigatórias das emissões de gases do efeito estufa continua firme, mesmo com seus esforços para mostrar maior engajamento no debate global sobre mudança climática."A questão fundamental é se vamos ou não ter a capacidade de crescer nossa economia e sermos bons com o meio ambiente ao mesmo tempo", disse ele durante sessão de perguntas e respostas após discursar sobre o orçamento no Arkansas."Estou interessado em boa política. Kyoto, eu pensei, era má política", disse.A crítica contra o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, veio dias depois do ex-vice-presidente norte-americano Al Gore e um painel da Organização das Nações Unidas sobre a mudança climática ganharem o Prêmio Nobel da Paz pelo seu trabalho de conscientização sobre a mudança climática.A premiação para Gore, que ajudou a negociar Kyoto, gerou especulações sobre a possibilidade de novas pressões para que Bush mude sua posição sobre o aquecimento global e aceite as metas obrigatórias que muitos países europeus vêem como necessárias para combater o problema.
Autor: Caren Bohan

Origem: Yahoo notícias

O Sul é uma Nação

Comentário
Gostariamos de esclarecer que a questão separatista sempre é algo delicado e polêmico de se tratar. A opinião do blogue sobre o assunto encontra-se no artigo "A questão separatista". publicamos artigos dessa temática não por ser a favor ou contra aquilo que esta escrito, mas por serem estudos sociológicos e políticos muitas vezes bem fundamentados e por consequencia válidos para proposta do blogue. por isso os textos que forem considerados coerentes serão publicados.
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A fim de evitar-se confusões conceptuais, prudente é recordar antes que o Estado (ou País) distingue-se da Nação por ser o primeiro uma realidade jurídica, ao passo que a segunda é uma realidade psicossociológica. São realidades diferentes e inconfundíveis. Por outro lado, enquanto o conceito de Nação é subjetivo, o Estado é objetivo. Essa diferenciação é fundamental na tese em curso porque não nega a qualidade de Estado à República Federativa do Brasil, porém a sua qualidade de Nação Única.
O conceito de Estado não foi muito claro na antigüidade. Começou com a Polis, na Grécia, e a Civitas, em Roma. Mas deve-se a Maquiavel, principal artífice da ciência política moderna, a introdução desta expressão na literatura científica.
Todavia, não há ainda uma definição de Estado que seja aceita sem restrições. As definições encontradas refletem pontos-de-vista de cada autor e doutrina. Neste momento, essa polêmica não tem grande importância, porquanto a compreensão de Estado está com fortes raízes na consciência de todos, independentemente das definições já colocadas em papel. Pedindo emprestada a definição escolhida por Groppali, o Estado “é a pessoa jurídica soberana, constituída de um povo organizado sobre um território sob o comando de um poder supremo, para fins de defesa, ordem, bem-estar e progresso social” Os elementos constitutivos do Estado são população, território e governo.
Conseqüência de qualquer definição que for escolhida, o Estado pode constituir-se por um ou mais povos e nações. No primeiro caso, surge o Estado nacional (um só povo e nação); no segundo, aparece o Estado Plurinacional (mais de um povo e nação). Também pode a nação constituir-se em mais de um Estado.
Ora, é evidente que no Estado Nacional não haveria grande sentido falar-se em fracionamento ou desmembramento do Estado para formação de novo(s) Estado(s). Entretanto, a situação é diversa quando o Estado é plurinacional, quando a população do Estado é composta por mais de um povo ou nação, destituído de coesão interna e muitas vezes alvo de disputas internas e desarmonias das mais variadas. Sensível a essas ocorrências, o Direito Internacional Público, dando sua contribuição para a paz no mundo do pós-guerra, vem prestigiando sobre todas as outras a doutrina das nacionalidades, segundo a qual deve ser reconhecido a cada grupo nacional homogêneo o direito de constituir-se em Estado soberano.
Como observou Del Vecchio, o Estado que não corresponde a uma nação é um Estado imperfeito. De qualquer modo o direito internacional moderno consagra o princípio segundo o qual “cada nação deve constituir um Estado próprio”. Desta forma, várias questões precisam ser esclarecidas: o Brasil consiste num Estado Nacional ou Estado Plurinacional? O Estado deve fazer a Nação ou a Nação deve fazer o Estado? O Estado deve ser fim ou meio da sociedade?
Para Hegel o Estado é a “suprema” encarnação das idéias. Já na teoria fascista, a Nação não faz o Estado, mas este é que faz a Nação. Em nome desta doutrina a Abissínia e o povo etíope foram anexados como novos integrantes da “Nação Italiana” de Mussolini.
Ora, se cada Nação tem o direito de constituir-se em Estado Soberano; se o Brasil é um Estado Plurinacional; se a Constituição fixa já no seu primeiro artigo que o Brasil é formado pela “união indissolúvel” dos Estados (membros); se a cláusula pétrea do artigo 60, § 4º, I, da Constituição Federal, proíbe emenda constitucional tendente a abolir a “forma Federativa do Estado”; conclui-se que as correntes que prendem o Sul, e talvez outras Regiões, são cláusulas nitidamente fascistas, autorizando a via da desobediência civil, em nome do direito das gentes, do direito subjetivo público e do direito natural, que hierarquicamente estão acima de quaisquer outras leis do ordenamento positivo, tudo somado ao suporte de todas as doutrinas que justificam o nascimento de novos Estados Soberanos. Essa insurreição, justa por natureza, tem agasalho na própria pregação de Santo Agostinho.
No que se liga ao problema finalístico do Estado propriamente dito, duas correntes se digladiam. A primeira quer o Estado um fim em si mesmo, sendo a sociedade o seu meio, assim, desta forma, flagrantemente contraposta à doutrina democrática. Essa doutrina esta intimamente relacionada aos princípios fascistas, onde o Estado faz a nação, e não o contrário. Infelizmente essa doutrina de fundo fascista foi incorporada pelo Brasil, tanto pelos regimes militares quanto pelos civis. Por ela tudo se justifica em nome do país, mesmo que se trate da subjugação de povos diferentes. A segunda doutrina prega que o Estado, democraticamente considerado, não passa de uma instituição nacional, um meio para a realização da vontade coletiva, tendo por único fim a própria sociedade. Segundo ela, a Nação é de direito natural, enquanto o Estado resume-se em obra da vontade humana. Assim, o Estado não tem autoridade nem finalidade em si mesmo. Deve ele ser a soma dos ideais da comunhão que deveria representar.
O próximo passo é provar que o Sul já é uma Nação, com um povo próprio. Essa missão competiria aos respectivos povos das outras regiões, no que lhes pertine e se assim entenderem. Abrindo a discussão, primeiro há que se conceituar ao certo o que é uma Nação. Depois, se o Sul enquadra-se, ou não, nessa conceituação.No que a Nação distingue-se de Povo?
Alguns autores afirmam que Nação e Povo se equivalem. Dentre eles Maggiori e Battaglia, com tendências idealistas. Mas esta afirmação não é aceita pela maioria. Na verdade são conceitos semelhantes. Porém Nação é de maior compreensão que Povo, porque tem natureza político-sociológica.
Assim, é preciso delimitar muito bem os conceitos de Nação e Povo estabelecidos pelos autores. Apesar de algumas divergências, no cerne da questão a convergência é a regra. M. Hauriou define a Nação como “uma população fixada no solo, na qual um laço de parentesco espiritual desenvolve o pensamento da unidade de agrupamento” (Précis de Droit Constitucionel, 1923, p. 25). Por seu turno Jellinek caracteriza a nação como “um grande número de homens que adquirem a consciência de que existe entre eles um conjunto de elementos comuns de civilização, e que esses elementos lhes são próprios; têm, ainda, consciência de um mesmo passado histórico e de um destino à parte, distinto dos outros agrupamentos e é nisto que consiste uma nação”. Por aqui, se vê que a nação não tem uma realidade exterior e objetiva. Entra mais propriamente na categoria dessas grandes manifestações sociais que não se pode determinar com o auxilio de instrumentos e processos exteriores de apreciação. O conceito de nação, essencialmente subjetivo, é resultado de um estado de consciência ( L. Etat moderne et son droit, p. 207). Para Mancini, “a Nação é uma sociedade natural de homens com unidade de território, de costumes e de língua, afeitos a uma vida em comum e com uma consciência social”.
Consoante definição empregada pela Organização das Nações e Povos Não Representados (UNPO), com sede em Haya (Holanda), que possui como principal objetivo a representação de povos e nações sem cadeira na Organização das Nações Unidas: “uma nação ou povo significa um grupo de seres humanos que têm vontade de ser identificados, como uma nação e povo, e estão unidos por uma herança comum que seja de caráter histórico, racial, étnico, lingüístico, cultural, religioso e territorial”. Essa definição está consagrada no artigo 6º, alínea “a”, do seu Estatuto. Entre todas certamente é a conceituação mais exigente para Nação e Povo.
Enquadrar-se-ia o Povo do Sul nesses exigentes requisitos para ser considerado Povo e Nação? A resposta é uma afirmativa contundente: sim.Assim, “decompondo” a minuciosa definição dada pelo UNPO:(a) - “Uma Nação e um Povo significa um grupo de seres humanos que têm vontade de ser identificado como uma nação ou povo...” A Nação Sul-Brasileira é constituída por uma população razoável a fim de ser reconhecida como um Povo e Nação: cerca de 25 milhões de habitantes. A vontade desse povo em ser reconhecido como Nação pode ser encontrada no fundo da alma de cada um. Essa verdade é demonstrada com clareza mediante pesquisas idôneas, inclusive de órgãos da imprensa manifestamente contrários a esse reconhecimento.
A revista “Isto É” (nº 1235, de 02 / Jun / 1993), em matéria de “capa”, registra uma pesquisa, pela qual os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina proclamariam já suas independências. Na mesma esteira andou a revista “Amanhã” (nº 60, de abril de 92), cuja pesquisa apontou o desejo de separação unida dos três Estados do Sul, com índice de 60,7%. Na cidade de Turvo (SC) houve uma impressionante unanimidade dos 759 pesquisados, pelo “Sim”. E sabe-se que muitas outras foram feitas, inclusive sob encomenda dos opositores da liberdade e que, obviamente, jamais foram divulgadas. Se foram parar em arquivos secretos ou nos fornos de incineração, é dúvida.A verdade é que a vontade coletiva do “sim” é sentida em todas as raras oportunidades em que a proposta autodeterminista comparece aos meios de comunicação. O retorno pelo “sim” foi tão impressionante que começou a ficar perigoso. A palavra de ordem da mídia, hoje, é não conceder mais qualquer espaço para a questão independentista.
Ora, é pressuposto elementar dessas manifestações, expressando o desejo de independência, que por trás delas está um forte sentimento de nacionalidade e da condição de povo. É o subjetivo conduzindo a vontade. Há, sem dúvida, um grupo de seres humanos que “têm vontade de ser identificado como um nação ou povo”. Esse requisito exigido pela UNPO está plenamente satisfeito. Ninguém conseguirá esconder essa vontade;
(b) - “... e estão unidos por uma herança comum que seja de caráter histórico...” A união do povo Sul-Brasileiro em torno de uma herança comum de caráter histórico tem profundas raízes na sua própria história, destacando-se o abandono a que sempre foi relegado o Sul, o que lhe propiciou vida própria, independente das outras regiões. As conseqüências deste abandono foram as insurreições libertárias no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que chegaram, inclusive, a desligarem-se do império brasileiro;
(c) - “... racial...” Nesse aspecto cumpre destacar que, pelos cruzamentos ocorridos em todos os continentes, não existem mais raças puras. Assim, o povo Sul-Brasileiro, como quase todos os demais, é produto de uma mistura que abriga origens das três grandes raças: a caucasóide, a negróide e a mongolóide;
(d) - “... étnico...” A herança comum de caráter étnico também está presente. O grupo humano do Sul possui traços somáticos em comum e uma relativa uniformidade cultural;
(e) - “... lingüístico...” O povo do Sul fala predominantemente o português, ao lado das línguas trazidas pelos imigrantes, incorporando muitos termos indígenas e com forte influência espanhola no extremo Sul;
(f) - “... cultural...” A herança comum de caráter cultural tem fortes raízes na cultura indígena. É bastante homogênea e distingue-se muito de outras regiões brasileiras, notadamente do Nordeste e Norte;
(g) - “... religioso...” A religião predominante é a católica, seguida das protestantes, que coexistem com credos oriundos de praticamente todas as correntes religiosas;
(h) - “... territorial...” A Nação Sulista assenta-se sobre um território contíguo de 576.316 quilômetros quadrados. A conformação territorial teve forte influência nas características do povo. Os limites deste território com o oceano e com outros países, somente ao Norte com o Brasil, também ajudou a formação de uma nacionalidade própria. O clima é sub tropical, diferente das outras regiões brasileiras. As populações indígenas nativas da região eram as únicas capazes de resistir ao frio. Também é diferente a biodiversidade. A natureza dotou este território de rios que têm as suas nascentes ou, no mínimo, grande parte dos seus afluentes, dentro dele próprio. Portanto a água, para consumo e irrigação, também é própria. É uma herança comum de caráter geográfico que reforça a sua condição de Povo e Nação. Essa condição decorre da própria natureza. Desse modo não há como esconder que a própria mãe natureza agiu numa divina cumplicidade com o povo Sul-Brasileiro na sua causa libertária.

Fonte: Sítio do movimento O Sul é o Meu País.
http://www.patria-sulista.org/

O peão que laçou um AVIÃO!



Dia 23 último foi o Dia da Aviação e do Aviador. E essa digna profissão de aviador envolve, no Rio Grande do Sul, uma curiosa e inusitada situação. Ela foi divulgada na coluna Curiosidades, do Jornal Correio Gaúcho, ed. n. 2, da cidade de Santa Maria da Boca do Monte. A história é mais ou menos, assim, deste jeito: “Este causo é verdadeiro e aconteceu lá prás bandas de Santa Maria! No dia 20 de janeiro de 1952, bem no coração do Rio Grande do Sul, mais uma vez o gaúcho deu provas de seu espírito arrojado de pioneirismo. Em pleno aniversário de Criação do Ministério da Aeronáutica, um peão de fazenda resolveu comemorar de outra maneira, laçando as asas do progresso! Foi no interior de Santa Maria, mais propriamente na Fazenda Tronqueiras, em Arroio do Só, que o fato histórico e único marcou a vida de duas pessoas: Irineu Noal e Euclides Guterres. O jovem piloto Irineu Noal, então com uma prática de vinte horas de vôo, naquela tarde decolou para aquele que deveria ter sido apenas mais um vôo local. Ao sobrevoar a Fazenda Tronqueiras, embicou o Paulistinha numa série de razantes sobre a mesma, espantando umas vacas que o peão Euclides acabara de apartar. As passagens sobre a casa grande e a mangueira acabaram por mexer com a índole do peão, que passou a mão no seu treze braças e o arremessou por diversas vezes em direção ao pequeno monomotor, que a cada arremetida passava mais baixo, num verdadeiro desafio ao laçador. E foi ali, senão quando, numa dessas cruzadas o laço cortou o espaço e cerrou a armada grande bem no nariz da aeronave. Estava feito! O motor pipocou algumas vezes, perdendo altura, para depois nivelar e sumir em direção à Santa Maria, levando preso na fuselagem um pedaço de laço gaúcho, treze braças, quatro tentos, couro cru, prova inconteste da habilidade vaqueana de um simples peão de fazenda. Tal fato encontra-se registrado em jornais da época (A Razão, Diário de Notícias, Almanaque do Correio do Povo e até na Time americana, que circulou dia 11 de fevereiro de 1952). A Base Aérea de Santa Maria também mantém em seu acervo vários jornais e revistas da época, relatando a incrível façanha do peão Euclides Guterres, que acabou ficando conhecido como o Rei do Laço. O piloto acabou tendo o seu brevet caçado, e até hoje guarda a hélice do paulistinha com um pedaço do laço. Euclides já é falecido, mas o seu feito o tornou imortal, visto que em tempo algum se repetiu tal proeza no mundo! É mais um feito heróico, que ninguém tira do Rio Grande!”.


De onde virá o grito?

Num texto anterior introduzi o conceito de “Ressentimentos Passivos”. Para relembrar, lá vai um trecho:
“Você também é mais um (ou uma) dos que preenchem seu tempo com ressentimentos passivos? Conhece gente assim? Pois é. O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia distribuindo ressentimentos passivos. Olham o escândalo na televisão e exclamam “que horror”. Sabem do roubo do político e falam “que vergonha”. Vêem a fila de aposentados ao sol e comentam “que absurdo”. Assistem a uma quase pornografia no programa dominical de televisão e dizem “que baixaria”. Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram ”que medo”. E pronto! Pois acho que precisamos de uma transição “nestepaíz”. Do ressentimento passivo à participação ativa.”.Pois recentemente estive em Recife e em Porto Alegre, onde pude apreciar atitudes com as quais não estou acostumado, paulista/paulistano que sou. Em Recife, naquele centro antigo, história por todos os lados. A cultura pernambucana explícita nos out-doors, nos eventos, vestimentas, lojas de artesanato, livrarias. Mobilização cultural por todos os lados. Um regionalismo que simplesmente não existe na São Paulo que, sendo de todos, não é de ninguém.
No Rio Grande do Sul, palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa. Abriram com o Hino Nacional. Todos em pé, cantando. Em seguida, o apresentador anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul. Fiquei curioso. Como seria o hino? Começa a tocar e, para minha surpresa, todo mundo cantando a letra!
“Como a aurora precursora / do farol da divindade, / foi o vinte de setembro / o precursor da liberdade”Em seguida um casal, sentado do meu lado, prepara um chimarrão. Com garrafa de água quente e tudo. E oferece aos que estão em volta. Durante o evento, a cuia passa de mão em mão, até para mim eles oferecem. E eu fico pasmo. Todos colocando a boca na bomba, mesmo pessoas que não se conhecem. Aquilo cria um espírito de comunidade ao qual eu, paulista, não estou acostumado. Desde que saí de Bauru, nos anos setenta, não sei mais o que é “comunidade”. Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São Paulo. Aliás, você sabia que São Paulo tem hino? Pois é... Foi então que me deu um estalo. Sabe onde é que os “ressentimentos passivos” se transformarão em participação ativa? De onde virá o grito de “basta” contra os escândalos, a corrupção e o deboche que tomaram conta do Brasil? De São Paulo é que não será. Esse grito exige consciência coletiva, algo que há muito não existe em São Paulo. Os paulistas perderam a capacidade de mobilização.Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção. São Paulo é um grande campo de refugiados, sem personalidade, sem cultura própria, sem “liga”. Cada um por si e o todo que se dane. E isso é até compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes.
Penso que o grito – quando vier - só poderá partir das comunidades que ainda têm essa “liga”. A mesma que eu vi em Recife e em Porto Alegre. Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a bandeira. Ou talvez os Pernambucanos. Que buscarão em suas raízes a indignação que não se encontra mais em São Paulo.Que venham, pois. Com orgulho me juntarei a eles.
Luciano Pires

Sepé Tiaraju e a Identidade Gaúcha

1. Já entre os gregos, a narrativa - e a memória nela transmitida - tinha importância decisiva na formação da identidade humana. Assim, contava-se que em Tebas, uma esfinge desafiava a cidade: “Decifra-me ou devoro-te!” E exigia sacrifícios periódicos de preciosas vidas humanas. O enigma consistia em saber quem seria o animal que anda com quatro pernas pela manhã, com duas ao meio-dia e com três à tarde. Ora, “é o ser humano”, decifrou Édipo, livrando a cidade da sua assombração, ao considerar o arco da aventura humana, decifração de vida ou morte. Pois o Rio Grande do Sul tem duas esfinges: Sepé Tiaraju e o Negrinho do Pastoreio.

2. A identidade gaúcha está marcada pela violência de fronteira, desde antes da demarcação final, dos inícios do século XIX, que não deixou de ser uma demarcação belicosa. É, em conseqüência, uma identidade “fronteiriça”, de “frontes” e “confrontos”, ambiguamente belicosa e hospitaleira ao mesmo tempo. Molda-se à luz de uma relação perigosa de incursões, de conquista e defesa, de vigilância dificultada pela vastidão pampeana, quase uma “terra de fundo”, corredor para bandeirantes e castelhanos. Mesmo depois de sua definição, o Rio Grande do Sul (RS) permanece com uma tendência obsessiva, repetitiva, para um dualismo resolvido na “degola”. Ximangos e maragatos são figuras desse dualismo repetitivo, que vem de antes ainda, da guerra farroupilha e se repete mimeticamente até nossos dias, em formas mais sofisticadas de degola “da outra metade”. Nas batalhas políticas, por exemplo, em que estamos sempre belicosamente divididos e querendo o pescoço do adversário. O que seria do gaúcho sem um inimigo, sem uma peleia, sem um confronto?

3. Uma real pacificação do Rio Grande do Sul, precisa começar com a reabertura de um doloroso dossiê de suas origens, um dossiê escondido do ponto de vista político, acadêmico e religioso. A imposição também belicosa do positivismo, um facho de iluminismo na capital, mas com degola no campo afora, permitiu à nossa política de fronteira, ser tanto o vanguardismo como o berço da ditadura a ferro e fogo (Décio Freitas). O positivismo acadêmico varreu da história e da formação da identidade gaúcha, tudo o que se conta na memória popular cabocla e negra, remanescente do extravio indígena e da escravidão africana em nossas terras. Lendas, mitos, “causos”, essas formas de resistência da memória dos dominados e envergonhados pela cultura oficial, foram desclassificadas como incapazes de servirem de documentação ou ao menos, como indícios de verdades históricas. O catolicismo romanizado, por sua vez, ergueu a catedral de Porto Alegre sobre cabeças de figuras indígenas esmagadas – outra forma da degola - como vitória sobre a superstição.

4. A alma e a mística dos povos nativos e dos povos afro-descendentes se refugiaram e se sintomatizaram no “causo”, na pageação, na literatura. A identidade gaúcha foi sendo embretada para a estância, ganhando nos CTGs, uma forma de estetização ritual e controle da violência do dualismo perigoso, que insiste em perseguir e criar curtos-circuitos no campo e na cidade. A ambigüidade dos CTGs, criados num esforço de terapia da identidade, que reproduz esteticamente, ritualmente, e ao mesmo tempo, controla a violência gaúcha, parece não dar mais conta das novas disseminações de violência e de vontade de degola, como solução radical. Estamos cada vez mais “pisando no pala” e cada vez mais “o revólver fala” (Teixeirinha).

5. É necessário um remédio homeopático, buscando nas fontes do veneno, o próprio remédio. Não é, propriamente, nas lendas e nos causos, nas figuras míticas e nos gemidos, que ainda se escutariam nas regiões das charqueadas ou das Missões, que estão as assombrações a nos gelar a espinha. Estão nos rostos indiáticos, mestiços e caboclos, que jazem vivos como esfinges nas periferias, nas vilas e nos ônibus da área metropolitana, arranchados por todo canto, nas periferias das grandes e das pequenas cidades, identidades desgarradas. Esses rostos e esses corpos não são visíveis para a aristocracia acadêmica e política, a cavalo com vidro fumê, que não circula pelas periferias ou de ônibus de vila.

6. Se culturalmente e socialmente, em nosso meio “quem passa de branco, negro é”, então o mesmo se pode dizer dos descendentes indígenas mestiçados e acaboclados: há multidões ao nosso redor. Desmemoriadas por um lado, mas continuando a contar suas narrativas por outro, sem mesmo saber bem por quê. Os vazios de suas memórias e a baixa auto-estima de seus rostos e sotaques, são ingredientes perigosos para a violência indomada do gaúcho, mas suas narrativas e sabedoria, como bem percebeu Simões Lopes, são a resistência de uma anterioridade a todo dualismo fronteiriço, a possibilidade de uma hospitalidade que tem o segredo da remissão e da reconciliação – as vítimas sobreviventes que têm o poder de resgatar os vencedores manchados de sangue. Contanto que tenham chance de resgatar sua auto-estima, no reconhecimento de sua dignidade. O reconhecimento e a reconciliação real e completa com os vivos, comporta, no entanto, que não se deixe de fora os que foram mortos. É o caso de Sepé Tiaraju.

7. Se o corregedor da cidade missioneira de São Miguel fosse apenas o mito trágico e brilhante em que se tornou, se fosse apenas uma lenda com sucesso - como o Negrinho do Pastoreio - se São Sepé estivesse mais para são Jorge do que para Santo Antônio, ainda assim, e exatamente assim – como mito fundante e significante – teria uma importância histórica e hagiográfica decisiva, na formação da identidade gaúcha. Certamente ainda incômoda, como um São Luiz IX e uma Santa Joana D’Arc para a identidade da França moderna. Sepé está para a história do Rio Grande do Sul, como a figura histórica de Jesus para a literatura do Novo Testamento e para a história do cristianismo. O próprio Negrinho do Pastoreio: há nele o custo das vidas inocentes de muitos negrinhos de carne e osso pelo Rio Grande saladeiro. Montado no cavalo escatológico do Negrinho do Pastoreio ou no cavalo encilhado de Sepé Tiaraju, estão os descendentes todos de africanos triturados pelas charqueadas e de nativos derrubados pelas coroas ibéricas. Na vida real, continuam gaúchos peões e usuários de coletivos, de periferia e beira de estrada, que se reúnem em “gauchada” ou “indiada”, em torno de algum “índio velho” ou ainda melhor, “qüera velho”; são todos indícios de uma identidade mais antiga, mais ancestral e mais enraizada, do que a identidade gaúcha forjada mais ou menos oficialmente, no entrevero dos confrontos de interesses, resolvidos na degola e na necessidade de domar pela estética e pelo ritual, a violência e as suas assombrações.

8. O Negrinho do Pastoreio, narrativa recolhida e consagrada por Simões Lopes, é a história cifrada dos que não têm os meios oficiais de documentar a sua história, situada no Rio Grande do Sul anterior às charqueadas, às estâncias e às cercas, no tempo do gado solto, chimarrão, jesuítico. Faz, portanto, como o juiz da carreira em cancha reta da história, um índio velho, um enlace com a história das Missões pelo caminho da narrativa popular. O gado missioneiro, abundante e disperso pelo trágico fim das cidades guaranis, tornou-se, com o agro-negócio, o fio dourado da economia gaúcha, passando pelas charqueadas com trabalho escravo e pela indústria coureiro-calçadista. Com a entrada de novas migrações européias, o Rio Grande do Sul se divide também economicamente em duas metades. As migrações foram introduzidas dentro de projetos de ocupação e desenvolvimento do espaço, sem nenhuma consideração ou até contra a população nativa derrotada, espantada e dispersa, tornada “índio do mato”, “bugre”, que se evita como a árvore braba, aquela que agride pela sua inoculação de substância alérgica.

9. Antes do dualismo trágico de fronteira, a marcar a identidade gaúcha, está Sepé, o índio nascido e criado em cidade missioneira, no espaço de um encontro civilizatório que, por todos os testemunhos deixados, e apesar das lendas negras que logicamente se criaram ao seu redor, foi um encontro muito criativo dentro do contexto e das suas possibilidades. Nas cartas que os chefes guaranis escreveram ao governador de Buenos Aires, em resposta ao mandato do rei de Espanha de se retirarem todos os Sete Povos para a banda ocidental do Uruguai, eles deixam claro que não foram conquistados e submetidos à força. Eles mesmos chamaram os padres e aceitaram livremente a vassalagem, porém dentro de certos termos, pois não podiam aceitar, com o Tratado de Madri, sua própria destruição. Estas cartas,[1] como outros documentos indiretos,[2] revelam uma grandeza de alma, uma dignidade e uma nobreza incomparavelmente acima dos dois lados que os espremiam, espanhóis e portugueses. Mesmo em termos de linguagem e argumentos cristãos, além de humanitários e políticos.

10. Os índios missioneiros, no entanto, estavam entre o rochedo e o mar. A lógica dos impérios ibéricos, lógica expansionista e mercantilista, não poderia suportar outra forma de existência com sucesso. Como interpretou Rodolfo Kusch, filósofo argentino, trata-se aqui, mais a fundo, do trágico conflito entre a hegemonia do ser sobre o estar: o ser se realiza no desdobramento através do tempo e do espaço, identidade conquistando as diferenças, para reunir tudo em si e aumentar o seu poder de ser, e assim sucessivamente. Por isso “a verdade do ser é a guerra” (Heráclito). Ora, os nativos viviam - e continuam a resistir popularmente - na lógica do “estar”, habitando ecologicamente uma terra em que, mais do que serem eles os proprietários da terra, era ela a proprietária deles, a “mãe terra”. Por isso, nos arrazoados de Santa Tecla, diante dos demarcadores, como nas cartas dirigidas ao governador de Buenos Aires, está o discurso guarani sobre a terra, que só a Deus, o Criador, pertence, dada a São Miguel no presente missioneiro, para que os nativos nela habitassem. A memória se resumiu, como sabemos, no incômodo grito profético: “Esta terra tem dono!”. Na lógica indígena – é importante sublinhar – não são eles os donos da terra, mas Aquele que as deu, para haabitarem, para criarem seus filhos, enterrarem seus mortos, plantarem seus ervais e criarem seus animais. Precisam da terra não para explorar, mas para habitar com simplicidade, e por isso precisam mais terra do que os que a transformam em matéria produtiva e negócio. Na verdade, são os guardiões naturais da ecologia, ainda não totalmente contaminados pelo ser agressivo do ocidente.

11. Perdida dramaticamente, a ferro e fogo, a civilização nascida do encontro da espiritualidade barroca dos jesuítas com a mística e a sensibilidade guarani, com a dispersão em diversas direções e destinos, os índios aprenderam a sobreviver através da adaptação silenciosa, enquanto os kaingangues preferiram recuar soberanamente para as matas, e os outros “infiéis” às coroas e sua religião (charruas, minuanos, mojanes, patos etc.) foram sendo dizimados de diversas maneiras.

12. Hoje, além dos povos testemunhas que, mesmo à beira de estrada, buscam viver em comunidades próprias, conservando a língua e a mística em torno de seus “karaís”, há uma multidão de autênticos descendentes de Sepé Tiaraju nos rostos mestiços, de olhos amendoados, cabeças cobertas por cabelos lisos e pretos, com o enigmático sorriso de um olhar meio envergonhado, de poucas palavras fora de seu círculo, verdadeiras multidões periféricas das cidades gaúchas, que são a esfinge – uma delas, a outra tem cor negra – a desafiar a identidade gaúcha e seus problemas de origem e de violência sistêmica.

13. Evidentemente, a memória de Sepé não poderá ser apenas celebração que se torne álibi para descarrego de consciência. A primeira justiça é o reconhecimento e a efetivação da necessidade de terra e de um mínimo de meios de vida, para os povos guaranis e kaingangues. A sobrevivência deles, digna e feliz, é absolutamente necessária para o futuro da identidade gaúcha tão plural. Mas para eles e para toda a multidão de descendentes de ameríndios gaúchos, é urgente também devolver a dignidade da auto-estima, da visão positiva que dê disposição de perdão e de reconciliação, com as demais descendências vindas e crescidas no espaço gaúcho. Inclusive trazendo seus ancestrais, seus mortos, na comunhão mística de sua religiosidade, para que desapareça de nossas calçadas as suas assombrações e a sua potencial violência, obrigando a nos aprisionarmos em nossas casas com nossos juízos violentos, e para que fiquem seus mortos sobre nossas noites, como a luz brilhante e pura de Sepé, do qual possamos todos nos orgulhar e possamos todos venerar. Ele pode se tornar como um “pai Abraão” para todas as raças que habitam nesse espaço gaúcho. Até lá, continuarão os sacrifícios, as degolas, o medo até das sombras que nos assaltam, e nenhuma descendência ou ascendência terá habitação pacificada numa justa pátria gaúcha para todos.

14. É por isso que, assim como o Movimento Negro lançou o desafio à auto-estima dos afro-descendentes com o slogan “Negro é bonito!”, com base na documentação e nos gestos herdados pelos descendentes índios, no ano de Sepé Tiaraju pode-se proclamar com justiça: “Índio é nobre!”

[1] RABUSKE Arthur, Cartas de Índios Cristãos do Paraguai, Máxime dos Sete Povos, Datadas de 1753. In : Estudos Leopoldenses, Vol. 14, n. 47 (1978)p65-102. O pesquisador utiliza e melhora traduções antigas, com uma introdução situando e avaliando os documentos.[2] Cf, por exemplo, ESCANDON ............. O autor não está interessado diretamente nos índios, mas na defesa da reputação dos jesuítas diante da iminente perseguição. Exatamente por isso, suas notas sobre os índios antes e durante a guerra de 1756 revela de forma desinteressada, até mesmo quando menospreza, a verdade da nobreza e da fé dos índios missioneiros.

Autor: Frei Luís Carlos Susin. (Teólogo)
Fonte: Sítio da CIMI (Conselho Indigenista Missionário) http://www.cimi.org.br/

A Figura do Gaúcho e a Identidade Cultural Latino Americana

Este trabalho tem por objetivo examinar, a partir da análise de reportagens de jornais – Zero Hora e Correio do Povo – publicadas durante as comemorações da Semana Farroupilha, a importância da figura do gaúcho como um dos ícones da identidade sul-rio-grandense, considerando-a uma figura relevante para uma das possíveis figuras representativas da assim chamada identidade latino-americana. A análise considera o papel pedagógico exercido pela mídia no sentido de instituir verdades e produzir subjetividades, ensinando determinadas maneiras de se ser gaúcho.
O referencial teórico da pesquisa está situado no campo dos Estudos Culturais, cujos conceitos chave são justamente cultura, identidade, sistemas de significação e poder, entendendo a cultura como constituidora de todos os aspectos da vida social, e considerando que os processos de significação social, inerentes a ela, cultura, não se dão sem permanentes lutas e tensões.
Desta forma, Silva (2000) observa que “a cultura é um campo de produção de significados no qual os diferentes grupos sociais, situados em posições diferenciais de poder, lutam pela imposição de seus significados à sociedade mais ampla. A cultura é, nesta concepção, um campo contestado de significação. O que está centralmente envolvido nesse jogo é a definição da identidade cultural e social dos diferentes grupos” (p. 133-134).
A partir deste jogo pela imposição de sentidos e de definições das identidades culturais e sociais de determinados grupos, podemos considerar o caráter relacional das identidades, o qual nega qualquer tipo de essência ou característica transcendente. Woodward (2000) enfatiza justamente esta perspectiva não-essencialista das identidades, colocando em xeque a idéia de unicidade e da presença de certas características que se perpetuam através do tempo. Wodak (1999) utiliza o conceito de “identidade múltipla”, esclarecendo que “o termo é designado para descrever o fato de os indivíduos bem como os grupos coletivos tais como as nações serem em muitos aspectos híbridos de identidade, daí ser uma falácia e uma ilusão a idéia de uma identidade ‘pura’ homogênea no nível individual ou coletivo” (p. 16).
Esse aspecto de hibridismo cultural será discutido em três reportagens publicadas nos dias 12 e 18.09.03 (no jornal Correio do Povo) e no dia 15.09.03 (no jornal Zero Hora). Todas elas referem-se ao desfile de 20 de Setembro – data máxima do Rio Grande do Sul, na qual se comemora a Revolução Farroupilha - na cidade de Santana do Livramento. No ano de 2003, o desfile se estendeu até a cidade fronteiriça de Rivera, no Uruguai.
Ainda no que diz respeito ao processo de produção cultural da identidade, acrescento ser este um campo contestado, onde diferentes grupos sociais lutam pela imposição de determinados significados, e não de outros, pois, conforme observa Costa (1998), “ quando alguém ou algo é descrito, explicado, em uma narrativa ou discurso, temos a linguagem produzindo uma ‘realidade’, instituindo algo como existente de tal ou qual forma." (p.42)A Escola e o currículo escolar são espaços onde circulam diversas narrativas sobre grupos culturais, as quais, muitas vezes, privilegiam certas identidades, ao invés de outras, ensinando determinados significados. Silva (1999) afirma que “não é preciso dizer que a educação institucionalizada e o currículo – oficial ou não – estão, por sua vez, no centro do processo de formação de identidade. O currículo, como espaço de significação, está estreitamente vinculado ao processo de formação de identidades sociais.” (p. 27).
No caso da identidade gaúcha, podemos assistir a uma determinada produção de sentidos que obtém um espaço privilegiado na constituição do campo de significação do que “é ser gaúcho”. Pode-se falar na predominância da representação do gaúcho do pampa, do meio rural, corajoso e destemido. São elementos que, segundo Jacks (1998), fazem parte do “mito do gaúcho”, o qual, conforme a autora, “engendrou um tipo, uma personalidade, que passou a identificar idealmente o gaúcho e impor-se como padrão de comportamento.” (p. 21)
É importante ressaltar aqui o papel que tem o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), criado em 1966, no sentido de ser um aglutinador destes significados presentes no chamado mito do gaúcho. O MTG coordena as ações dos Centros de Tradições Gaúchas (CTG) a ele filiados e demais entidades do gênero, realizam anualmente o Congresso Tradicionalista, coordena e dá assessoria a eventos como rodeios, festas campeiras, festivais nativistas, concursos de prendas e artísticos.
A preocupação do MTG para que as crianças aprendam, desde cedo, a maneira como se tornar gaúchos e gaúchas é latente. Barbosa Lessa, no primeiro congresso do MTG, realizado em Santa Maria no ano de 1954, defendeu a tese “O Sentido e o Valor do Tradicionalismo”, na qual aparecem as duas grandes questões do Tradicionalismo. Ao lado da assistência a ser dada ao homem do campo, a grande questão é a atenção a ser dada às novas gerações, pois, segundo o seu autor, o Tradicionalismo deve “operar com intensidade no setor infantil ou educacional, para que o movimento tradicionalista não desapareça com a nossa geração. É clara a preocupação com a renovação do Movimento, com a construção de novos gauchinhos e prendinhas, fato que será discutido na segunda parte desse trabalho, o qual se debruçará sobre reportagens publicadas durante Semana Farroupilha e que tratam justamente da inserção das crianças, seja via Escola ou família, no discurso do gauchismo. Dessa forma, as crianças aprendem, desde cedo como “ser” gaúcho ou gaúcha.
Autores: Letícia Fonseca Richthofen de Freitas e Rosa Maria Hessel Silveira

Carta de Princípios do MTG

A "Carta de Princípios" atualmente em vigor foi aprovada no VIII Congresso Tradicionalista, levado a efeito no período de 20 a 23 de julho de 1961, no CTG "O Fogão Gaúcho" em Taquara, e fixa os seguintes objetivos do Movimento Tradicionalista Gaúcho:

I - Auxiliar o Estado na solução dos seus problemas fundamentais e na conquista do bem coletivo.

II - Cultuar e difundir nossa História, nossa formação social, nosso folclore, enfim, nossa Tradição, como substância basilar da nacionalidade.

III - Promover, no meio do nosso povo, uma retomada de consciência dos valores morais do gaúcho.

IV - Facilitar e cooperar com a evolução e o progresso, buscando a harmonia social, criando a consciência do valor coletivo, combatendo o enfraquecimento da cultura comum e a desagregação que daí resulta.

V - Criar barreiras aos fatores e idéias que nos vem pelos veículos normais de propaganda e que sejam diametralmente opostos ou antagônicos aos costumes e pendores naturais do nosso povo.

VI - Preservar o nosso patrimônio sociológico representado, principalmente, pelo linguajar, vestimenta, arte culinária, forma de lides e artes populares.

VII - Fazer de cada CTG um núcleo transmissor da herança social e através da prática e divulgação dos hábitos locais, noção de valores, príncipios morais, reações emocionais, etc.; criar em nossos grupos sociais uma unidade psicológica, com modos de agir e pensar coletivamente, valorizando e ajustando o homem ao meio, para a reação em conjunto frente aos problemas comuns.

VIII - Estimular e incentivar o processo aculturativo do elemento imigrante e seus descendentes.

IX - Lutar pelos direitos humanos de Liberdade, Igualdade e Humanidade.
X - Respeitar e fazer respeitar seus postulados iniciais, que têm como característica essencial a absoluta independência de sectarismos político, religioso e racial.

XI - Acatar e respeitar as leis e poderes públicos legalmente constituídos, enquanto se mantiverem dentro dos princípios do regime democrático vigente.

XII - Evitar todas as formas de vaidade e personalismo que buscam no Movimento Tradicionalista veículo para projeção em proveito próprio.

XIII - Evitar toda e qualquer manifestação em proveito próprio.

XIV - Evitar atitudes pessoais ou coletivas que deslustrem e venham em detrimento dos princípios da formação moral do gaúcho.

XV - Evitar que núcleos tradicionalistas adotem nomes de pessoas vivas.

XVI - Repudiar todas as manifestações e formas negativas de exploração direta ou indireta do Movimento Tradicionalista.

XVII - Prestigiar e estimular quaisquer iniciativas que, sincera e honestamente, queiram perseguir objetivos correlatos com os do tradicionalismo.

XVIII - Incentivar, em todas as formas de divulgação e propaganda, o uso sadio dos autênticos motivos regionais.

XIX - Influir na literatura, artes clássicas e populares e outras formas de expressão espiritual de nossa gente, no sentido de que se voltem para os temas nativistas.

XX - Zelar pela pureza e fidelidade dos nossos costumes autênticos, combatendo todas as manifestações individuais ou coletivas, que artificializem ou descaracterizem as nossas coisas tradicionais.

XXI - Estimular e amparar as células que fazem parte de seu organismo social.

XXII - Procurar penetrar a atuar nas instituições públicas e privadas, principalmente nos colégios e no seio do povo, buscando conquistar para o Movimento Tradicionalista Gaúcho a boa vontade e a participação dos representantes de todas as classes e profissões dignas.

XXIII - Comemorar e respeitar as datas, efemérides e vultos nacionais e, particularmente o dia 20 de setembro, como data máxima do Rio Grande do Sul.

XXIV - Lutar para que seja instituído, oficialmente, o Dia do Gaúcho, em paridade de condições com o Dia do Colono e outros "Dias" respeitados publicamente.

XXV - Pugnar pela independência psicológica e ideológica do nosso povo.

XXVI - Revalidar e reafirmar os valores fundamentais da nossa formação, apontando às novas gerações rumos definidos de cultura, civismo e nacionalidade.

XXVII - Procurar o despertamento da consciência para o espírito cívico de unidade e amor à Pátria.

XXVIII - Pugnar pela fraternidade e maior aproximação dos povos americanos.

XXIX - Buscar, finalmente, a conquista de um estágio de força social que lhe dê ressonância nos Poderes Públicos e nas Classes Rio-Grandenses para atuar real, poderosa e eficientemente, no levantamento dos padrões de moral e de vida do nosso Estado, rumando, fortalecido, para o campo e homem rural, suas raízes primordiais, cumprindo, assim, sua alta distinação histórica em nossa Pátria.

Fonte: Movimento Tradicionalista Gaúcho

O que é o MTG

Era 28 de outubro de 1966, estava criado o Movimento Tradicionalista Gaúcho-MTG e seu estatuto. A criação do MTG foi a realização do anseio e da culminância do trabalho de muitos tradicionalistas. O MTG hoje é o órgão catalisador, disciplinador, orientador das atividades dos seus filiados, especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de Princípios.É a união das diferentes gerações . É a entidade associativa, que congrega mais de 1400 Entidades Tradicionalistas, legalmente constituídas, conhecidas por Centro de Tradições Gaúchas ou outras denominações, que as identifiquem com a finalidade a que se propõe, que são as “entidades a fins”.
As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estão distribuídas nas 30 Regiões Tradicionalistas, as quais agrupam os municípios do RS. É um movimento cívico, cultural e associativo.Sua sede é própria e está instalada à rua Guilherme Schell, n.º 60, no Bairro Santo Antônio, em Porto Alegre, tendo sido inaugurada no mês de dezembro de 1998.
O MTG é uma sociedade civil sem fins lucrativos, dedica-se à preservação, resgate e desenvolvimento da cultura gaúcha, por entender que o tradicionalismo é um organismo social de natureza nativista, cívica, cultural, literária, artística e folclórica, conforme descreve simbolicamente o Brasão de Armas do MTG, com as sete ( 7 ) folhas do broto, que nasce do tronco do passado.
Sua administração constitui-se atualmente por Conselheiros Efetivos e por Conselheiros Suplentes, os quais compõem o Conselho Diretor, pelas trinta Coordenadorias Regionais e por Conselheiros da Junta Fiscal, sem qualquer remuneração. Todos dedicam- se graciosamente para que o MTG tenha condições de atingir seus objetivos, que estão pautados no “Congregar os Centros de Tradições Gaúchas e entidades a fins, e preservar o núcleo da formação gaúcha, cuja filosofia decorrente da sua Carta de Princípios do MTG”.
Mapa das regiões tradicionalistas


Fonte: Movimento Tradicionalismo Gaúcho
Endereço:
www.mtg.org.br

Grupo dos Oito

INTRODUÇÃO
No fim da II Guerra Mundial, o mundo ocidental, encontra-se com grande influência exercida pela posição dos Estados Unidos. Tornou-se, assim, o principal centro de irradiação da moda, cultura e as elites urbanas, principalmente os jovens, começaram a imitar o americano “way of life”.
Com rapidez, a juventude voltava as costas para as suas raízes culturais, e os intelectuais rio-grandenses demonstravam sua insatisfação com aquele estado de coisas, e tinham a consciência que as pressões do modismo americano sufocava a cultura local, o Rio Grande, de resto, o mundo todo.
O Brasil estava saindo da ditadura de Getúlio Vargas, que havia amordaçado a imprensa, prejudicava o desenvolvimento e prática das culturas regionais. Com isso, perdia-se o sentimento de culto às tradições, nossas raízes estavam ao esquecimento, adormecidas, reflexo da proibição, demonstrações de amor ao regional. Bandeiras e Hinos dos estados foram simbolicamente queimados em cerimônia no Rio de Janeiro e, diante de tudo isso os gaúchos estavam acomodados àquela situação, apáticos, sem iniciativa.
O GRUPO DOS OITO
Em agosto de 1947, em Porto Alegre, eclodiu forte uma proposta de esperança de liberdade e o amor à terra tinha vez e lugar. Jovens estudantes, oriundos do meio rural, de todas as classes sociais, liderados por Paixão Côrtes, criam um Departamento de Tradições Gaúchas no Colégio Júlio de Castilhos, com a finalidade de preservar as tradições gaúchas, mas também de desenvolver e proporcionar uma revitalização da cultura rio-grandense, interligando-se e valorizando no contexto da cultura brasileira. Dentro deste espírito é que surge a criação da Ronda Crioula, estendendo-se do dia 7 ao dia 20 de setembro, as datas mais significativas para os gaúchos.
Entusiasmados com a idéia procuraram a Liga de Defesa Nacional e contataram o Major Darcy Vignolli, responsável pela organização das festividades da “Semana da Pátria”, expressaram o desejo do grupo de se associarem aos festejos, propondo a possibilidade da retirada de uma centelha do “Fogo Simbólico da Pátria” para transformá-la em “Chama Crioula”, como um símbolo da união indissolúvel do Rio Grande à Pátria Mãe, e do desejo de que a mesma aquece o coração de todos os gaúchos e brasileiros durante até o dia 20 de setembro, data magna especial. Nessa oportunidade, Paixão recebeu o convite para montar uma guarda de gaúchos pilchados em honra ao herói farrapo. David Canabarro, que seria transladado de Sant’Ana do Livramento para Porto Alegre.
Paixão Côrtes, para atender o honroso convite, reuniu um piquete de oito gaúchos pilchados e, no dia 5 de setembro de 1947, prestaram a homenagem a Canabarro. Esse piquete hoje conhecido como o Grupo dos Oito, ou Piquete da Tradição. Primeira semente que seria seguida no ano seguinte, na criação do “35” CTG.
Antonio João de Sá Siqueira, Fernando Machado Vieira, João Machado Vieira, Cilço Campos, Ciro Dias da Costa, Orlando Jorge Degrazzia, Cyro Dutra Ferreira e João Carlos Paixão Côrtes, seu líder. Durante o cortejo, o “Grupo dos Oito”, os jovens estudantes, conduziam as bandeiras do Brasil, do Rio Grande e do Colégio Júlio de Castilhos.
Fonte: Movimento Tradicionalista Gaúcho]
Endereço:
http://www.mtg.org.br/

Tradicionalismo Gaúcho: Um Fenômeno Sócio-Cultural riograndense

Comunicar na atualidade é sinônimo de instantaniedade, diferente dos séculos XV, XVI, XVII, XVIII XIX que a difusão das idéias e as grandes decisões não chegavam as grandes massas.
Por isso que quando, do tratado de Tordesilhas, entre Espanha e Portugal os índios que viviam no Brasil não ficaram sabendo que haviam se tornado súditos dos Espanhóis. Por esse motivo os dias e noites seguiam, para eles, da mesma forma. À noite, reunidos em torno do fogo-de-chão os mais velhos contavam causos e historias, ouvidos atentamente pelos mais jovens, que faziam disso sua escola. Esse amor, esse apego a terra natal caracterizava os nativos do continente, pois era da mãe-terra que eles tiravam seu sustento, daí o sentimento telúrico que mais tarde também caracterizou o gentílico sul riograndense.J
á no século XVIII esse indivíduo começa a aparecer no cenário pastoril de nosso território, como uma casta de índios-vagos, registrado em 1777 pela comissão demarcadora de limites dos tratados, onde dizia que o guanches ou gauches eram homens sem um paradeiro, matador de touros chimarrões. Auguste de Saint-Hilare também descreveu esse homem rude como um consumidor de carne, toma mate e tem tendência a barbárie. Depois Nicolau Dreys deu seu parecer, dizendo que os gaúchos estão em todas partes onde existem estâncias e charqueadas em que emprestam sua força para as lides campeiras, sem chefes, sem leis. Formam-se originalmente do contato da raça branco com a indígena.
Os próprios viajantes que pelo sul passaram falavam que o “continentino” diferenciava-se dos demais, como paulista e mineiro por serem arraigados a terra.
O decênio farrapo que propiciou além da tensão entre a civilização pastoril e a urbana, de outra parte conscientizou a existência de uma pátria continentina e estreitou os laços de solidariedade entre famílias patriarcais e os galpões, na busca da estabilidade territorial.
Em 1854 temos uma das primeiras evocações telúricas do RS, pois na Corte no Rio de Janeiro, o professor Pereira Coruja fundou a SOCIEDADE SUL RIOGRANDENSE, como entidade solidária e de encontro dos riograndeses.
O século XIX foi, sem dúvida nenhuma o período de crescimento mundial, e não poderia deixar de ser, aqui no sul do Brasil surgiam grandes nomes como os fundadores do Partido Liberal Histórico, como Gaspar Silveira Martins, Felix da Cunha, Pinheiro Machado, entre outros. Isso em 1860, como um marco do revigoramento consciente da tradição riograndense. O Partido Liberal Histórico buscava os ideais de federação, mas rejeitava a forma republicana de governo.
Na mesma década de 60, em 1868 em plena guerra do Paraguai despontava o jovem de 24 anos, chamado Apolinário Porto Alegre, a abolicionista e republicano, que fundou o Partenon Literário, que agremiava intelectuais da época.
Em São Paulo nascia o Partido Republicano, que atraiu jovens como Julio de Castilhos e Assis Brasil que criaram uma agremiação chamada club 20 de setembro.
A escolarização foi algo demorado a chegar à população rural e mesmo na urbana não eram muitos que tinham essa capacidade de deter o conhecimento. Por isso os grandes líderes detinham a retórica e davam-se os grandes embates políticos, defrontando-se gigantes como Silveira Martins e Julio de Castilhos. A grande maioria do povo restava apenas segui-los nas coxilhas onde irmão matava irmão.
A sociedade começava a separar-se, de um lado a urbana para não se confundido com a sociedade pastoril, reunia-se nos clubes comerciais (elite) e Caixeral (mídia) enquanto ao peão restava apenas o aconchego do galpão e da viola, onde cantava seu amor a terra.
Final do século XIX, 1898 o major João Cezimbra Jaques, precursor do gauchismo Cívico, criou o grêmio gaúcho de Porto Alegre. Também surge em Pelotas, a União Gaúcha criada em 1899 por João Simões Lopes Neto. Este elucidava o porquê da criação de tal agremiação:
“Hábitos saudáveis na família estão sendo cada dia, abolidos. Brincadeiras infantis, esquecidos. Praticas e Usanças características, desprezadas. (...) é o lento suicídio de nossa personalidade.”
As agremiações criadas ainda, no século XIX, como grêmio gaúcho de Porto Alegre (1898), União Gaúcha (1899), Centro Gaúcho de Bagé (1899) e no inicio do século XX o Grêmio Gaúcho de Santa Maria (1901), Sociedade Gaúcha Lomba Grande (1938) e o Clube Farroupilha de Ijuí (1943) foram o despertar do patriotismo como uma alavanca na afirmação da identidade local. Era a semente que germinaria com muita força na segunda metade do século XX.Enquanto Simões Lopes Neto divulgava seus trabalhos folclóricos, no Rio de Janeiro os sul-rio-grandenses ganhavam o apelido de “gaúchos”. O Dr. Severino de Sá Brito registrava com simpatia a novidade:
De algum tempo nossos amáveis patrícios do RJ nas suas habituais gentilezas nos alcunham de gaúchos, por darem a essa palavra uma expressão de galhardia e elevação”
Mas no Rio Grande o fato causou mal estar à elite urbana, onde saiu no Almanak do RS em 1912 o artigo “gaúcho, por quê?”. As criticas eram enormes, a ponto de Cezimbra Jaques exilar-se no RJ para não ser ridicularizado.
Após a primeira grande guerra, já na década de 20 os riograndenses já vinham aceitando, sem maiores restrições, a alcunha de gaúcho, que vinha, coincidentemente como os modismos, de fora. A classificação dada era relacionada à perícia campeira, das habilidades exercidas sobre os animais nas lidas de campo da estância.
Defendendo a arte literária riograndense Darcy Azambuja na prosa e Vargas Neto na poesia começavam a afirmar as características do regionalismo gaúcho.
“O que o homem dos campos, tanto o estancieiro quanto o mais humilde trabalhador rural, oferece de impressionante, (...) é a capacidade de renovação e a adaptação à vida. Não é a indumentária o essencial a sua caracterização, ou o modo de conduzir a sua vida, pois vestido à européia, a pe ou a cavalo derrubando touros ou vindo operas (...) o que dá fisionomia histórica do gaúcho, o seu vinculo de diferenciação é a franqueza nas atitudes e nas palavras, o narcisismo, a bravura quixotesca, a vocação cívica, o bom humor mesclado a irreprimíveis explosões sentimentais e fatalistas. Tais virtudes e defeitos constituem o fundo permanente, imutável, o seu caráter. Por isso não variam com as condições materiais ou morais de vida”
João Pinto da Silva Recrutado da história riograndense, o gaúcho ressurge na literatura e nas artes, como o símbolo da afirmação da identidade local, provindo da revolução ocorrida na Semana da Arte Moderna de 1922, onde se buscava no regional a afirmação nacionalista. A expressão “gaúcho” perde sua conotação pejorativa para se tornar a representação altiva do gentílico riograndense.
Rogério Bastos, Diretor Administrativo FCG-MTG
Fonte: página do MTG www.mtg.org.br

O Sentido eo Valor do Tradicionalismo - Parte II

O MOVIMENTO TRADICIONALISTA RIO-GRANDENSE

O movimento tradicionalista rio-grandense - que vem se desenvolvendo desde 1947, com características especialíssimas - visa precisamente combater os dois reconhecidos fatores de desintegração social. O fundamento científico deste movimento encontra-se na seguinte afirmação sociológica: "Qualquer sociedade poderá evitar a dissolução enquanto for capaz de manter a integridade de seu núcleo cultural. Desajustamentos, nesse núcleo, produzem conflitos entre indivíduos que compõem a sociedade, pois esses vêm a preferir valores diferentes, resultando, então, a perda da unidade psicológica essencial ao funcionamento eficiente de qualquer sociedade".
Através da atividade artística, literária, recreativa ou esportiva, que o caracteriza - sempre realçando os motivos tradicionais do Rio Grande do Sul - o Tradicionalismo procura, mais que tudo, reforçar o núcleo da cultura rio-grandense, tendo em vista o indivíduo que tateia sem rumo e sem apoio dentro do caos de nossa época.
E, através dos Centros de Tradições, o Tradicionalismo procura entregar ao indivíduo uma agremiação com as mesmas características do "grupo local" que ele perdeu ou teme perder: o " pago". Mais que o seu "pago", o pago das gerações que o precederam.
Cada Centro de Tradições Gaúchas, em si, é um novo "Grupo Local". E à medida que surgem novos Centros, em todos os municípios do Rio Grande do Sul, vai o Tradicionalismo confundindo-se com o Regionalismo, pois opera para que todos os indivíduos que compõem a Região sintam os mesmos interesses, os mesmos afetos, e desta forma reintegrem a unidade psicológica da sociedade regional. E com isso o Tradicionalismo pode se transformar na maior força política do Rio Grande do Sul. Para evitar confusão de "política" com "política partidária", expressemo-nos assim: O Tradicionalismo pode constituir-se na maior força a auxiliar o Estado na resolução dos problemas cruciais da coletividade.
Para compreendermos tal afirmativa, basta repetir a transcrição já feita: "Se os cidadãos tiverem interesses e culturas comuns, com vontade unificada que daí advém, quase qualquer tipo de organização formal de governo funcionará eficientemente. Mas, se isso não se verificar, nenhuma elaboração de padrões formais de governo, nenhuma multiplicação de lei, produzirá um Estado eficiente ou cidadãos satisfeitos.

O SENTIDO DO TRADICIONALISMO

O Tradicionalismo consiste numa EXPERIÊNCIA do povo rio-grandense, no sentido de auxiliar as forças que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade. Como toda experiência social, não proporciona efeitos imediatamente perceptíveis. O transcurso do tempo é que virá dizer do acerto ou não desta campanha cultural. De qualquer forma, as gerações do futuro é que poderão indicar, com intensidade, os efeitos desta nossa - por enquanto - pálida experiência. E ao dizermos isso, estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa estéril de "retorno ao passado". A realidade é justamente o oposto: o Tradicionalismo constrói para o futuro.
Feitas estas considerações preliminares, podemos tentar um conceito do movimento tradicionalista. E então diremos:
"Tradicionalismo é o movimento popular que visa auxiliar o Estado na consecução do bem coletivo, através de ações que o povo pratica (mesmo que não se aperceba de tal finalidade) com o fim de reforçar o núcleo de sua cultura: graças ao que a sociedade adquire maior tranqüilidade na vida comum".

CARACTERÍSTICAS DO TRADICIONALISMO

Mais do que uma teoria, o Tradicionalismo é um movimento. Age dentro da psicologia coletiva. Sua dinâmica realiza-se por intermédio dos Centros de Tradições Gaúchas, agremiações de cunho popular que têm por fim estudar, divulgar e fazer com que o povo "viva" as tradições rio-grandenses.
O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente POPULAR, não simplesmente intelectual. É verdade que o tradicionalismo continuará sendo compreendido, em sua finalidade última, apenas por uma minoria intelectual. Mas, para vencer, é fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares, isto é, nas canchas de carreiras, nos auditórios de radioemissoras, nos festivais e bailes populares, na "Festas do Divino" e de "Navegantes", etc.
Para alcançar seus fins, o Tradicionalismo serve-se do Folclore, da Sociologia, da Arte, da Literatura, do Esporte, da Recreação, etc. Tradicionalismo não se confunde, pois, com Folclore, Literatura, Teatro, etc. Tudo isso constitui MEIOS para que o Tradicionalismo alcance seus fins. Não se deve confundir o Tradicionalismo, que é um movimento, com o Folclore, a História, a Sociologia, etc., que são ciências. Não se deve confundir o folclorista, por exemplo, com o tradicionalista: aquele é o estudioso de uma ciência, este é o soldado de um movimento. Os Tradicionalistas não precisam tratar cientificamente o folclore; estarão agindo eficientemente se servirem dos estudos dos folcloristas, como base de ação, e assim reafirmarem as vivências folclóricas no próprio seio do povo.

AS DUAS GRANDES QUESTÕES DO TRADICIONALISMO

Existem duas questões importantíssimas, que de maneira nenhuma podem ser descuidadas pelos tradicionalistas, sob pena deste esforço cultural se desenhar, de antemão, como uma experiência fracassada.

A) ATENÇÃO ESPECIAL ÀS NOVAS GERAÇÕESDeve, o Tradicionalismo, operar com intensidade no setor infantil ou educacional, para que o movimento tradicionalista não desapareça com a nossa geração. Porque nós - os tradicionalistas de primeira arrancada - entramos para os Centros de Tradições Gaúchas movidos pela necessidade psicológica de encontrar o "grupo local" que havíamos perdido ou que temíamos perder. Mas as gerações novas não chegaram a conhecer o grupo local como unidade social autêntica, e somente seguirão nossos passos por força de impulsos que a educação lhes ministrar.
Por isso não temo afirmar que o dia mais glorioso para o movimento tradicionalista será aquele em que a classe de Professores Primários do Rio Grande do Sul - consciente do sentido profundo desse gesto, e não por simples atitude de simpatia - oferecer seu decisivo apoio a esta campanha cultural.
Aliás, não se concebe que as Escolas Primárias continuem por mais tempo apartadas do movimento tradicionalista. Pois a maneira mais segura de garantir à criança o seu ajustamento à sociedade é precisamente fazer com que ela receba, de modo intensivo, aquela massa de hábitos, valores, associações e reações emocionais - o patrimônio tradicional, em suma - imprescindíveis para que o indivíduo se integre eficientemente na cultura comum.

B) ASSISTÊNCIA AO HOMEM DO CAMPOA idéia nuclear das Tradições Gaúchas é a figura do campeiro das nossas estâncias. Por isso, é sumamente necessário que o Tradicionalismo ampare social e moralmente o homem do campo, para que um dia não se chegue à situação paradoxal de manter-se uma Tradição de fantasia, em que se tecessem hinos de louvor ao "Monarca das Coxilhas", ao "Centauro dos Pampas", e esse gaúcho fosse um desajustado social, um pária lutando febrilmente pela própria subsistência. A nossa cultura somente poderá se impor sobre as outras culturas, no entrechoque inevitável, se for suficientemente prestigiosa. Daí a razão por que precisamos mostrar às novas gerações - bem como àqueles que, vindos de terras distantes, acorrerem à nossa querência - que as tradições gaúchas são REALMENTE belas, e que o gaúcho merece realmente a nossa admiração.

O TRADICIONALISMO COMO FORÇA ECONÔMICA
Prestigiando as tradições gaúchas e prestando assistência moral e social ao homem do campo, o Tradicionalismo estará contribuindo de maneira inestimável para a solução do problema que ora sufoca a nossa vida econômica: o êxodo rural, a crise agrícola. É que, dentre as principais causas do êxodo rural, encontramos uma que foge ao âmbito dos fenômenos econômicos. Para proteger o homem do campo, e fazer com que ele permaneça no meio rural, não basta que o Estado lhe forneça meios econômicos mais seguros. Se o campesino acaso julgar que o lugar que lhe está reservado na sociedade encontra-se nas cidades, ele será um desajustado enquanto não realizar seu sonho de transferir-se para a cidade. Este fenômeno prende-se ao conceito sociológico de "status", que é a posição social de uma pessoa em relação a todas as outras com quem está em contato. Se "os outros" demonstram que certo indivíduo ocupa um "status" digno, ele fica satisfeito; mas se "os outros" demonstram o contrário, ele é, inconscientemente, levado a demonstrar habilidade, e, nesse afã, sempre deseja competir com os indivíduos que considera superiores, jamais com aqueles que considera inferiores. Assim sendo, se o campesino se considera inferior ao citadino, mais cedo ou mais tarde tentará procurar a cidade, para ali competir com quem lhe rouba a posição social.
Prestigiando as tradições gaúchas, e prestando assistência moral e social ao homem do campo, o Tradicionalismo estará convencendo o campesino da dignidade e importância do seu "status". Estará, em suma, pondo em prática aquilo que o sanitarista Belizário Penna um dia salientou, mais ou menos nestes termos: "O Brasil é o país onde mais se fala em valorização.
Valorização do café brasileiro, do dinheiro brasileiro, do algodão brasileiro, do boi brasileiro. Somente não se pensa na mais urgente e importante valorização: a do Homem brasileiro, a qual, por si só, estaria conduzindo a todas as outras".

Autor: Barbosa lessa
Origem: www.paginadogaucho.com.br

O Sentido e o Valor do Tradicionalismo Parte I

Autor: Barbosa Lessa

Tese aprovada pelo Primeiro Congresso Tradicionalista doRio Grande do Sul, Santa Maria, Julho de 1954.
Comentários: Embora Barbosa Lessa tenha sido um folclorista, e a maioria de seus trabalhos se concentre no resgate e interpretação de costumes históricos, o artigo intitulado " O Sentido e o Valor do Tradicionalismo" é uma elaboração sociológica sobre o tema. provavelmente seja a primeira tentativa de fundamentação sociológica do movimento.
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Na vida humana, a sociedade - mais que o indivíduo - constitui a principal força na luta pela existência. Mas, para que o grupo social funcione como unidade, é necessário que os indivíduos que o compõem possuam modos de agir e de pensar coletivamente. Isto é conseguido através da "herança social" ou da "cultura". Graças à cultura comum, os membros de uma sociedade possuem a unidade psicológica que lhes permite viverem em conjunto, com um mínimo de confusão.
A cultura, assim, tem por finalidade adaptar o indivíduo não só ao seu ambiente natural, mas também ao seu lugar na sociedade. Toda a cultura inclui uma série de técnicas que ensinam ao indivíduo, desde a infância, a maneira como comportar-se na vida grupal. E graças à Tradição, essa cultura se transmite de uma geração a outra, capacitando sempre os novos indivíduos a uma pronta integração na vida em sociedade.

I - A DESINTEGRAÇÃO DE NOSSA SOCIEDADE

A cultura e a sociedade ocidental estão sofrendo um assustador processo de desintegração. Incluídas nesse panorama geral, a cultura e a sociedade de quaisquer dos povos ocidentais, necessariamente, apresentam, com maior ou menor intensidade, idêntica dissolução. É nos grandes centros urbanos que esse fenômeno se desenha mais nítido, através das estatísticas sempre crescentes de crime, divórcio, suicídio, adultério, delinqüência juvenil e outros índices de desintegração social.
Analisando tais circunstâncias, mestres da moderna Sociologia chegaram à conclusão de que problemas sociais cruciantes da atualidade são causados, ou incentivados, pelo relaxamento do controle dos costumes e noções tradicionais de cada cultura.

II - OS DOIS FATORES DE DESINTEGRAÇÃO

Sociólogos de renome afirmam que a desintegração social, característica de nossa época, é devida a dois fatores:
Primeiro: o enfraquecimento das culturas locais.
Segundo: o desaparecimento gradativo dos "Grupos Locais" comunidades transmissoras de cultura.
Analisemos, então, esses dois fatores.

A) O ENFRAQUECIMENTO DO NÚCLEO CULTURAL

A cultura de qualquer sociedade se compõe de duas partes.Há um núcleo sólido, de certa forma estável, constituído pelo PATRIMÔNIO TRADICIONAL. Nesse núcleo se concentram aqueles inúmeros hábitos, princípios morais, valores, associações e reações emocionais partilhados por TODOS os membros de determinada sociedade (como a linguagem, a indumentária típica, os princípios fundamentais de moral, etc. ou ainda, por TODOS os membros de certas categorias de indivíduos, dentro da sociedade (como as ocupações reservadas só às mulheres ou só aos homens, as reações emocionais típicas de todos os velhos ou de todas as crianças, bem como os conhecimentos técnicos reservados aos ferreiros, aos médicos, aos agricultores, etc.). Tais elementos culturais contribuem para o bem-estar da coletividade, pois o indivíduo fica sabendo como comportar-se em grupo, e qual o comportamento que pode esperar dos outros("expectativas de comportamento"). Em suma: o cerne cultural dá, aos indivíduos, a unidade psicológica essencial ao funcionamento da sociedade.
Mas, cercando o núcleo, existe uma zona fluída e instável, constituída por elementos culturais chamados, em sociologia, Alternativas, e que são traços partilhados apenas por ALGUNS indivíduos, representando diferentes reações às mesmas situações, ou diferentes técnicas para alcançar os mesmos fins. (Certa pessoa viaja a cavalo, fazendo o mesmo percurso que outra prefere realizar em carroça; certa pessoa sente-se tremendamente ofendida se alguém faz "crítica" a um defeito físico seu, enquanto outra se comporta resignadamente face a tais críticas; etc.)
É esta zona de Alternativas que permite à cultura crescer e acomodar-se aos avanços de uma civilização. Evidentemente, quanto maior for o entrechoque com culturas diversas, maior será a possibilidade de adoção de novas Alternativas, por parte dos membros de uma sociedade.
Quando a cultura de determinado povo é invadida por novos hábitos e novas idéias, duas coisas podem ocorrer:
Se o patrimônio tradicional dessa cultura é coerente e forte, a sociedade só tem a lucrar com o referido contato, pois sabe analisar, escolher e integrar em seio aqueles traços culturais novos que, dentre muitos, realmente sejam benéficos à coletividade.
Se , porém, a cultura invadida não é predominante e forte, a confusão social é inevitável: idéias e hábitos incoerentes sufocam o núcleo cultural, desnorteando os indivíduos, e fazendo-os titubear entre as crença e valores mais antagônicos. Quem mais sofre com essa confusão social - acentua o sociólogo Donal Pierson - são as crianças e os adolescentes, os responsáveis pela sociedade do porvir.
Crescendo nessas circunstâncias, a criança não sabe como agir, não é capaz de assumir, em seu espírito, qualquer expectativa clara de comportamento. E assim se originam, entre outros, os problemas da delinqüência juvenil, resultados de uma desintegração social.
Pois bem. Devido ao surto surpreendente do maquinismo em nossos dias, bem como da facilidade de intercâmbio cultural entre os mais diversos povos, observa-se que o núcleo das culturas locais ou regionais vai se reduzindo gradativamente, a ponto de se ver sufocado pela zona das Alternativas. E a fluidez naturalmente se acentua, à medida que as sociedades mantêm novos contatos com traços culturais diferentes ou antagônicos, introduzidos por viajantes ou imigrantes, ou difundidos por livros, imprensa, cinema, etc. Nossa civilização, antes alicerçada num núcleo sólido e coerente, transformou-se numa variedades de Alternativas, entre as quais o indivíduo tem que escolher.. Sem ampla comunidade de hábitos e de idéias, porém, os indivíduos não reagem com unidade a certos estímulos, nem podem cooperar eficientemente. Daí os conflitos de ordem moral que afligem o indivíduo, fazendo atarantar-se sem saber quais as opiniões e os valores que merecem acatamento.
Essa insegurança reflete-se imediatamente na sociedade como um todo e, consequentemente no Estado, pois, conforme ensina Ralph Linton "embora os problemas de organizar e governar Estados nunca tenham sido perfeitamente resolvidos, uma coisa parece certa: se os cidadãos tiverem interesses e culturas comuns, com a vontade unificada que daí advém, quase qualquer tipo de organização formal de governo funcionará eficientemente; mas se isso não se verificar, nenhuma elaboração e padrões formais de governo, nenhuma multiplicação de lei, produzirá um Estado eficiente ou cidadãos satisfeitos".

B) O DESAPARECIMENTO DOS "GRUPOS LOCAIS"

As duas unidades mais sociais mais importantes, como transmissoras de cultura, são a "família" e o "grupo local". Através dessas duas unidades, o indivíduo recebe, com maior intensidade, a sua "herança social".São exemplos de "grupo local", em nossa sociedade, o "vizindário" ou "pago" das populações rurais, bem como as pequenas vilas do interior, ou ainda (um exemplo do passado) os bairros com vida própria das cidades de há alguns anos atrás.
Por "grupo local" entende-se o agregado de famílias e de indivíduos avulsos que vivem juntos em certa área, compartilhando hábitos e noções comuns.Embora não tenha organização formal (como o distrito ou o município), o "grupo local" é a unidade social autêntica. O "pago", por exemplo, influencia a vida dos seus membros, estabelece limites à vida social (quais as famílias que podem ser convidadas para as festas) , mantém elevado grau de cooperação entre os indivíduos, pois todos devem se auxiliar (antigos trabalhos de puxirão) e cada qual tem consciência desse dever de auxílio mútuo. O Indivíduo conhece perfeitamente os costumes e os princípios morais instituídos pelo seu "pago"; além disso, há um conhecimento íntimo entre os membros de um mesmo "pago" (conhecem-se até os animais objetos pertencentes aos vizinhos). Todas essas circunstâncias influem para que o "grupo local" se constitua numa potente barragem para as transgressões à ordem pública ou à moral (furto, sedução, adultério, etc.). Ademais, embora não tenha um meio de reação formal(como a polícia), o "grupo local encerra grande força punitiva, através de medidas como a perda de prestígio, o ridículo, o ostracismo. Certamente já depreendemos, então, a grande importância de que se reveste o "grupo local" para assegurar a normalidade da vida comum, segundo os padrões culturais instituídos pelo grupo.
Acresce notar o seguinte: o integrar-se a um "grupo local" constitui verdadeira NECESSIDADE PSICOLÓGICA para o indivíduo normal. Este precisa de uma unidade social coesa, maior que a família, dentro da qual sinta que outros indivíduos são seus amigos, que compartilham suas idéias e hábitos. Tanto é verdade que o indivíduo se sente inseguro quando se vê só entre estranhos.Pois bem. O enfraquecimento da vida grupal - conforme acentuou Ralph Linton - é outra característica de nossa época. As unidades sociais pequenas estão gradativamente desaparecendo, e cedendo lugar às massas de indivíduos. Nas zonas rurais, os "grupos locais" ainda conservam um pouco de sua função como portadores de cultura; mas, em geral - devido ao afluxo de Alternativas - os jovens discordam dos padrões culturais antigos; acontece, porém, que a sociedade mais ampla - com a qual o jovem entra em contato por meio da imprensa, do rádio e cinema - ainda não têm padrões coerentes de vida para oferecer-lhes. Daí a insegurança que começa a notar-se em nossa sociedade rural.
Se nas zonas rurais se percebe apenas uma insegurança incipiente, apenas o relaxamento das forças do "grupo local" , o que se percebe nas cidades é a desintegração total dessas forças. A mudança de padrões culturais, em nossos dias, tem sido tão rápida que, em geral, o adulto de hoje teve sua infância condicionada à vida segundo as bases do "grupo local". Ensinaram-lhe a esperar dos seus vizinhos encorajamento e apoio moral; e quando esses vizinhos se afastam, o indivíduo se sente perdido. Ele escolhe entre muitas Alternativas, mas não dispõe de meios para estabelecer contato com outros que tenham feito, escolha semelhante.
Sem o apoio de um grupo que pense do mesmo modo, é - lhe impossível sentir-se seguro a respeito de qualquer assunto. E assim o indivíduo torna-se presa fácil de qualquer propaganda insistente, (quer seja a má propaganda, quer seja a boa propaganda).
Por isso, Ralph Linton escreveu "A cidade moderna, com sua multiplicidade de organizações de toda a espécie, dá a imagem de uma massa de indivíduos que perderam seus "grupos locais" e estão tentando, de maneira tateante, substituí-los por alguma outra coisa. De todos os lados surgem novos tipos de agrupamentos, mas até agora nada foi encontrado, que pareça capaz de assumir as principais funções do "grupo local". Ser membro do Rotary Club, por exemplo, não substitui adequadamente a posse de vizinhos e amigos tal como se verifica nos grupos locais".
CONTINUA

Chama Crioula: O dia em que nasceu o Tradicionalismo

Há 60 anos, quase à meia-noite de 7 de setembro de 1947, uma façanha surpreendeu o Rio Grande do Sul.Um grupo de oito estudantes, liderados por João Carlos DÁvila Paixão Côrtes, teve a idéia de capturar uma fagulha da Pira da Pátria, em Porto Alegre, utilizando um cabo de vassoura com trapos enrolados na ponta. O improvisado gesto tornou-se épico: lançou as bases do Movimento Tradicionalista Gaúcho, que hoje se espalha pelo Brasil e já chega aos Estados Unidos, à Europa e à Ásia.Cavaleiros que atualmente percorrem o Estado transportando archotes com a Chama Crioula, enfrentando frio e chuva, são gratos ao pioneirismo de Paixão Côrtes e sua turma. Alunos do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, na Capital, eles sofreram vaias e zombarias naquele 1947. Era ridículo andar de bombachas, também não convinha tomar chimarrão nas praças.Os oito desbravadores da Chama Crioula estavam no ardor dos seus 20 anos, eram saudosos do umbigo deixado no campo e, sobretudo, tiveram a sagacidade de notar que os hábitos e a cultura do Rio Grande do Sul poderiam ser exterminados. Naquele pós-II Guerra Mundial, a hegemonia norte-americana se infiltrava por meio de músicas, filmes, estilos e o modo de vida caubói. Para completar, a herança da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945) inibia a valorização regionalista em nome da unidade brasileira.Paixão Côrtes e os sete companheiros perceberam a urgência de agir, e antes que fosse tarde. Organizaram um Departamento de Tradições Gaúchas (DTG) dentro do Colégio Julinho, estimulando concursos de danças, poesia, culinária, tertúlias e palestras. Embrião dos atuais Centros de Tradições Gaúchas (CTGs), o DTG criou objetivos que até hoje vigoram. É uma espécie de Constituição Crioula.Os oito bombachudos fizeram outras proezas, abismando os cerca de 350 mil moradores daquela Porto Alegre que já ganhava contornos de metrópole com edifícios, avenidas e o ronco dos automóveis. Ao salvarem o que parecia se perder nos galpões, transformaram o ano de 1947 em mais um documento de identidade dos rio-grandenses. A Chama Crioula acendeu, há seis décadas, o fervor em ser gaúcho.
Origem: REPORTAGEM DE ZERO HORA DO DIA 02-09-2007

Cronologia da história do RS - de 1501 à 1824.

Antônio Augusto FagundesCurso de Tradicionalismo GaúchoMartins Livreiro Editor, 1995
* 1501Caravelas portuguesas, primeiro e logo depois as espanholas começam a aparecer nas costas gaúchas, mas sem desembarque, porque as praias eram perigosas e não havia portos naturais.
* 1531Os navegantes portugueses Martim Afonso de Souza e Pero Lopes, sem desembarcar nas praias gaúchas, batizam com o nome de Rio Gande de São Pedro a barra que vai permitir mais tarde a passagem de navios do Oceano Atlântico para a Lagoa dos Patos.
* 1626O padre jesuíta Roque Gonzalez de Santa Cruz, nascido no Paraguai, atravessa o rio Uruguai e funda o povo de São Nicolau, assinalando oficialmente a chegada o homem branco ao território gaúcho.
* 1634O padre jesuíta Cristobal de Mendonza Orellana (Cristóvão de Mendonza) introduzo gado nas Missões Orientais, o que vai justificar mais tarde o surgimento do gaúcho.
* 1641Os jesuítas são expulsos do Rio Grande do Sul pelos bandeirantes, depois de fundarem 18 reduções ou povos. Essas aldeias foram todas arrasadas e o gado, um pouco foi escondido ba Vacara dos Pinhais, outro pouco levaram para a Argentina na sua fuga e a maior parte se esparramou, virando "chimarrão", que quer dizer selvagem. Graças ao padre Cristóvão Mendonza, esse gado, que não tinha marca nem sinal, ficou também chamado "orelhano".
* 1682Os bandeirantes estão ocupados com o ouro e as pedras preciosas das Gerais, esquecendo os nossos índios. Voltam então os jesuítas espanhóis ao solo gaúcho, fundando primeiro São Francisco de Borja, hoje a cidade de São Borja, o mais antigo núcleo urbano do Rio Grande do Sul. Entre 1682 a 1701 eles fundaram 8 povos em território gaúcho, dos quais 7 prosperaram que se tornaram os 7 povos das Missões: São Francisco de Borja, São Nicolau, São Luiz Gonzaga, São Miguel Arcanjo, São Lourença Martin, São João Batista e Santo ângelo Custódio.
* 1750Assinado o Tratado de Madri entre Espanha e Portugal, pelo qual os portugueses dão aos espanhóis a Colônia de Sacramento e recebem em troca os 7 Povos das Missões. Os padres jesuítas espanhóis não se conformam com a troca e os índios missioneiros se revoltam. Vai começar a chamada Guerra das Missões.
* 1756A 7 de fevereiro morre em uma escaramuça o índio José Tiarayu, o Sepé, junto a Sanga da Bica (hoje dentro do perímetro urbano de São Gabriel) morto pelas forças espanholas e portuguesas. Três dias mais tarde ocorre o massacre de Caiboaté (ainda no município de São Gabriel) onde, em uma hora e 10 minutos os exércitos de Espanha e Portugal mataram quase 1.500 índios e tiveram apenas 4 baixas. Em Caiboaté foi vencida a resistência missioneira definitivamente. Ao abandonarem as Missões, os jesuítas carregaram o que puderam e incendiaram lavouras, casas e até igrejas.
* 1763Tropas espanholas invadem o Brasil, apoderando-se do Forte de Santa Tereza e da cidade de Rio Grande e de São José do Norte. No período de dominação espanhola começa a brilhar um herói autenticamente gaúcho: Rafael Pinto Bandeira.
* 1776Os espanhóis são expulsos do Rio Grande. Mas o forte de Santa Tereza jamais foi recuperado. Hoje está em território uruguaio.
* 1780Vindo do Ceará, o português José Pinto Martins funda em Pelotas a primeira charqueada com características empresariais. Logo as charqueadas vão ser decisivas na economia gaúcha. O negro entra maciçamente no RGS, como escravo das charqueadas.
* 1811Pedro José Vieira, vulgo "Perico, el Bailarín", que era gaúcho de Viamão, acompanhado pelo uruguaio Venâncio Benavidez dá o Grito de Asencio, que é o primeiro grito da independência do Uruguai. Surge o grande herói uruguaio "José Artigas".
* 1815Tropas brasileiras e portuguesas tomam Montevidéu anexando o Uruguai ao Brasil com o nome de Província Cisplatina.
* 1824A 18 de julho desembarcam em Porto Alegre os primeiros 39 colonos alemães. A 25 de julho eles se instalam nas margens do rio dos Sinos, na Real Feitoria do Linho Cânhamo, hoje a cidade de São Leopoldo.