A centelha que ilumina o gauchismo

A Chama Crioula não foi eternizada num repente. Antes de criarem o lume que apontaria os novos rumos para as tradições gaúchas, Paixão Côrtes e os sete amigos do Colégio Júlio de Castilhos sacudiram Porto Alegre.As surpresas começaram no final de agosto, quando montaram um simbólico galpão dentro do Julinho, com fogo de chão, roda de mate e declamação de poesias, fundando o Departamento de Tradições Gaúchas (DTG). Foi o marco para os CTGs.Em 5 de setembro, os oito jovens emocionaram a Capital ao escoltar os restos mortais do general farroupilha David Canabarro. Pilchados, com cavalos cedidos pelo Regimento Osório, acompanharam o esquife de Canabarro, transportado de Santana do Livramento para ser enterrado no Panteão Rio-grandense, em Porto Alegre. As exéquias faziam parte da Semana da Pátria. Acostumados a gracejos e deboches, comoveram-se com a receptividade:- As pessoas abanavam lenços, algumas choravam de emoção. O Rio Grande se reagauchava - lembra Paixão Côrtes.Um acidente quase comprometeu a escolta. Na Rua da Conceição, o cavalo de Cilço Araújo Campos, um dos porta-bandeiras do piquete, escorregou e se pranchou (caiu de lado). Fernando Vieira, que vinha atrás, esporeou a sua montaria e alcançou a bandeira do Brasil no ar, evitando que caísse. A sua perícia foi aplaudida pelo povo.O cortejo de honra rendeu valiosas adesões. Maravilhado com aqueles gaudérios que evocavam Piratini, onde nasceu, Luiz Carlos Barbosa Lessa se integrou ao grupo. O futuro escritor, folclorista, músico e historiador era outro desgarrado que se afligia com as trevas que engolfavam a cultura gaúcha. O governo não cumpriu a promessa de construir o panteão (Canabarro jaz numa parede do cemitério da Santa Casa), mas os oito colegas seguiram a cavalgada, reforçados por novos idealistas. Em 7 de setembro, quando Paixão Côrtes apanhou uma centelha do fogo da Pira da Pátria, já havia voluntários suficientes para a "Ronda" que se estendeu até o dia 20, a data da Revolução Farroupilha. Ivo Sanguinetti, Rubem Xavier, Barbosa Lessa e outros indormidos ajudaram a manter aceso o candeeiro crioulo.

Fonte: REPORTAGEM DE ZERO HORA DO DIA 02-09-2007